São Paulo, sábado, 29 de agosto de 2009

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Roteiro de férias orgânicas

ANNETTE SCHWARTSMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Consumir comida sem veneno é o novo luxo dos grandes centros urbanos? Na opinião de Suzane Strehlau, 44, professora de comportamento do consumidor da FEI (Faculdade de Engenharia Industrial), sim. Para ela, autora do livro "Marketing de Luxo", o hábito de comprar alimentos orgânicos ainda está restrito a um grupo privilegiado, que busca nessa atitude não só uma opção mais saudável. "As pessoas se sentem próximas da "vida natural" ao consumirem orgânicos", diz.
Independentemente da simbologia por trás da escolha, a professora aponta dois motivos que impedem esses itens de ganhar mais espaço no mercado. O primeiro deles é seu custo elevado, até 60% maior que o de similares convencionais.
Iracema Marcelino, frequentadora há cinco anos da feira orgânica do parque da Água Branca, em São Paulo, não se importa em pagar mais: "Além da questão da saúde, o sabor é diferente", diz ela, que desembolsa R$ 6 por uma alface orgânica sem dor na consciência. "Hoje, não me acostumo mais com os outros", diz. E dá a dica: "Sai mais barato comprar aqui do que no supermercado".
Os orgânicos custam mais porque seu cultivo demanda um cuidado maior com o solo, a água, a biodiversidade e até com a mão de obra. "Quanto mais trabalho dá, mais caro custa", simplifica Luiz Sartin, que vende orgânicos em sua loja, em Santana, e na feira do Mercado Municipal. Além disso, como a produção é menor, os gastos com distribuição acabam sendo mais altos.
A segunda razão que explica a difusão precária desses alimentos é a desinformação. "As pessoas não conhecem os benefícios para a saúde", diz Leda Martins, freguesa da feira do Ibirapuera. "Seria preciso fazer uma campanha educativa junto à população", sugere. "Os nossos clientes já conhecem bem, mas tem gente que confunde orgânico com natural ou hidropônico", diz Aparecida Francisca, uma das feirantes do local.
Mas uma medida tomada pela Supervisão Geral de Abastecimento da Prefeitura de São Paulo já começou a popularizar o consumo desses alimentos. Há dois anos, quando foi lançado o circuito de feiras livres de orgânicos, três endereços foram inaugurados na capital. Até o fim do ano, a previsão é que mais uma seja aberta em Santana, e que barracas de orgânicos sejam incluídas nas feiras livres comuns da cidade.
A ideia por trás dessa iniciativa é estimular a competitividade, sem intermediários, e assim reduzir os preços. Além disso, o contato direto entre produtores e consumidores ajuda a disseminar a cultura da alimentação orgânica. "Além de oferecer produtos mais saudáveis à população e apoiar a agricultura sustentável, essas feiras ajudam o orgânico a deixar o estigma de sofisticado para se tornar comum", diz José Roberto Graziano, 58, supervisor geral de abastecimento de São Paulo.
Outra vantagem dessas feiras é poder comprar a granel, evitando o excesso de embalagens e o desperdício. E, de quebra, passear, beliscar, pechinchar...


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