São Paulo, sábado, 29 de agosto de 2009

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

Desrespeito extra


Essa bagunça mostra a falta de compromisso da Anatel com os consumidores. Ela só alegra a vida das empresas


DESONESTIDADE , desrespeito, abuso. Poderíamos incluir muito mais palavras para qualificar o que operadoras de TV por assinatura estão fazendo com seus clientes, em relação ao ponto extra. Seria possível, também, usar expressões menos elegantes, mas desnecessário, porque desonestidade explica tudo.
Recebi e-mail da Laura que queria um ponto extra de sua TV por assinatura. Como a Justiça finalmente proibiu a cobrança do ponto adicional, esse deveria ser instalado gratuitamente. Bem, mas a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), bondosamente, permite que seja cobrado o aluguel do equipamento. O que não valia para a Laura, porque o contrato é antigo.
Resposta da operadora: só instalaria mais um ponto de TV se Laura assinasse um novo contrato. Desonestidade, desrespeito, abuso. Mas quem poderia defender Laura, se a própria Anatel ensinou as operadoras a burlar a lei? Estranho que tenha sido a Anatel a proibir, inicialmente, a cobrança do ponto extra. Uma bagunça, mostrando a falta de compromisso da agência com os consumidores brasileiros. Ela existe para alegrar a vida das empresas, decidindo sempre em favor delas.
Teria sido esse o objetivo de criação das agências reguladoras? Duvido. Creio que, como em quase todas as áreas institucionais do Brasil (veja a união de forças para proteger o mandato do senador José Sarney) valha o interesse do mais forte. Nunca, o direito da maioria em número, mas não em numerário.
Nos últimos anos, lamentavelmente, aumentaram as agressões contra o Código de Defesa do Consumidor. Da mesma forma que o desinteresse pela proteção do ambiente. Há uma visão desenvolvimentista que, segundo algumas autoridades, se confronta com os direitos do consumidor e a proteção ambiental.
É assim que eles pensam e agem. O que esperar disso tudo? Aquilo que alguns senadores e deputados enchem a boca para afirmar: dane-se a opinião pública.
Temos, contudo, nossa grande parcela de culpa nisso tudo. Como se fôssemos um bando de tolos, votamos nessa gente. Elegemos e reelegemos os artífices de renúncias irrevogáveis, facilmente revogáveis, .
São eles que querem -que surpresa!- ressuscitar a maldita CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), o imposto do cheque, para nos tosquiar até o último fio de cabelo, não fôssemos dos contribuintes mais sobretaxados do mundo, em troca de péssimos serviços públicos.
E é essa turma que acha normal, legal, muito bom, mesmo, que uma operadora de telefonia venda serviços de banda larga que nunca chegam à velocidade oferecida. Vende, mas não pode entregar.
Cansa conviver com tamanha falta de consideração. Somos tratados como lixo por aqueles que querem nossos votos, impostos e assinaturas, em contratos nos quais oferecem tudo, e não entregam nada.
Já deveríamos ter dado tchau a essa gente há muito tempo. Mas somos tão bonzinhos, que eles morrem de rir de nós.


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