São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

VOTO DE CONSUMIDOR


Lobos se travestem de cordeiros na campanha eleitoral, jurando não aumentar nem criar impostos. Mentira

DESONESTIDADE custa caro, de um modo ou de outro. Comprar produtos sem nota fiscal, para driblar a estúpida carga tributária brasileira, significa, entre outras coisas, não ter direito à troca, à assistência técnica. E, mesmo que o vendedor clandestino ofereça garantias, ao comprar tal produto se estará estimulando o submundo dos negócios.
Nunca se sabe qual tipo de atividade o contrabando financia. Há, contudo, indícios: crime organizado, tráfico de drogas, vendas de armamentos etc. Está passando da hora de nos mobilizarmos, como sociedade civil, para exigir dos políticos a redução das cargas tributária e fiscal.
Impostos civilizados reduzem os atrativos do contrabando. Ao cortar essa artéria, o crime organizado perde parte expressiva de sua irrigação.
Governo algum gosta de cobrar menos impostos, taxas e contribuições. Afinal, em um mundo governado, na realidade, por grandes corporações transnacionais e por fundos de investimento, ter uma montanha de dinheiro captada via impostos significa poder.
O consumidor brasileiro é triplamente penalizado pelo brutal sistema tributário vigente: compra menos do que poderia; deixa de adquirir produtos com mais qualidade e mais tecnologia; e não recebe nada em troca por ser taxado como um europeu.
As eleições estão próximas. Lobos se travestem de cordeiros na campanha eleitoral, jurando por todos os santos que não aumentarão nem criarão impostos e similares. Mentira. Cesteiro que faz um cesto, faz um cento, diz o velho e sábio ditado.
Quer uma maneira infalível de descobrir quem, após a posse como prefeito (a), meterá a mão no seu bolso? Bem, confronte o que ele (a) promete com as finanças de seu município. Algum candidato fala em reduzir gastos? Não? Então, prepare-se para o pior.
São Paulo, por exemplo, está diariamente coberta por uma camada de poluentes que não se dispersam, pois não chove. Os congestionamentos quilométricos aborrecem, atrasam e evitam um crescimento mais consistente da economia. Em pleno inverno, suamos devido a um calor de verão, com uma umidade relativa do ar que mais se parece com a do deserto.
Qual a novidade que os candidatos propõem? Quase nenhuma.
Dois focos de cidadania, não há dúvida, são: uma boa gestão ambiental e o apoio aos direitos do consumidor. Mas isso depende de educação de qualidade, o que não parece ser prioridade.
Essas são algumas reflexões para o consumidor, pois, quem tem renda para adquirir produtos e serviços, normalmente é formador de opinião. É cortejado por bancos, lojas, restaurantes e... políticos.
Não se deixe enrolar. No caso de São Paulo, os três candidatos com mais chances de vencer a disputa já ocuparam a prefeitura ou o governo do Estado. Esqueça quem tiver em seu currículo a mancha do aumento ou da criação de impostos. Já será um bom começo.

http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br

Texto Anterior: Energia e duas rodas (‘pré-sal’)
Próximo Texto: Idéias recicladas: Os neoecochiques
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.