São Paulo, sábado, 31 de maio de 2008

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Um banquete jogado no lixo

Uma família brasileira joga fora, em média, meio quilo de comida boa por dia. Saiba como comprar e guardar alimentos para reduzir o desperdício

CYRUS AFSHAR
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise mundial na produção de alimentos foi chamada pela ONU de "tsunami silencioso". No Brasil, ocorre todos os dias outro desastre, também silencioso: o desperdício. Segundo estimativa da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), uma família de classe média joga fora, em média, 182,5 quilos de comida por ano, o suficiente para alimentar uma criança por seis meses.
"Para evitar o desperdício, o consumidor tem que comprar bem, dar preferência aos alimentos de época, que têm mais qualidade e duram mais", diz Jocelem Salgado, professora da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz).
"Na época de inflação alta, as pessoas faziam a "compra do mês". Hoje, dá para comprar a cada três dias: significa desperdiçar menos e planejar melhor", diz Hélio Matar, 61, presidente do Instituto Akatu.
Tão importante quanto planejar é não estragar o que você não vai levar. "As pessoas apertam dez tomates para levar dois", diz João Tadeu Pereira, coordenador de Programas Institucionais da Ceagesp.
Outro cuidado simples é usar a geladeira do jeito certo. "Dependendo da refrigeração, você perde em sabor e qualidade, e tem que jogar o alimento fora", diz Milene Massaro, 38, diretora do Centro de Segurança Alimentar da Secretaria de Agricultura de São Paulo.
Um hipermercado pode desperdiçar, por mês, até 2.000 kg de alimentos bons para o consumo, mas não para a venda. Em 2007, 24 mil toneladas de material orgânico (partes de hortaliças ou comida considerada imprópria ao consumo) foram descartados na Ceagesp.
O ciclo de desperdício segue nas feiras-livres, onde a perda estimada, em São Paulo, é de mil quilos por dia. "Não é desperdício. Parte são alimentos, mas o resto são talos e ramos", diz José Roberto Graziano, supervisor de abastecimento da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras. Segundo ele, a quantidade de frutas e hortaliças perdidas é pequena perto do que é vendido.
Mas, para a Embrapa, a perda de hortaliças nos pontos-de-venda chega a 50%, dependendo do item. "Cerca de 40% das perdas são causadas por quedas e manipulação errada", diz Celso Moretti, 41, engenheiro da Embrapa. Para ele, é preciso passar informações e tecnologia a atacadistas e varejistas. "Num país onde muitos têm deficiência de vitaminas, superar esse problema é um desafio colossal", diz.


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