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Um banquete jogado no lixo
Uma família brasileira joga fora, em média, meio quilo de comida boa por dia. Saiba
como comprar e guardar alimentos
para reduzir o desperdício
CYRUS AFSHAR
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise mundial na produção
de alimentos foi chamada pela
ONU de "tsunami silencioso".
No Brasil, ocorre todos os dias
outro desastre, também silencioso: o desperdício. Segundo
estimativa da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária), uma família de
classe média joga fora, em média, 182,5 quilos de comida por
ano, o suficiente para alimentar
uma criança por seis meses.
"Para evitar o desperdício, o
consumidor tem que comprar
bem, dar preferência aos alimentos de época, que têm mais
qualidade e duram mais", diz
Jocelem Salgado, professora da
Esalq-USP (Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz).
"Na época de inflação alta, as
pessoas faziam a "compra do
mês". Hoje, dá para comprar a
cada três dias: significa desperdiçar menos e planejar melhor", diz Hélio Matar, 61, presidente do Instituto Akatu.
Tão importante quanto planejar é não estragar o que você
não vai levar. "As pessoas apertam dez tomates para levar
dois", diz João Tadeu Pereira,
coordenador de Programas
Institucionais da Ceagesp.
Outro cuidado simples é usar
a geladeira do jeito certo. "Dependendo da refrigeração, você
perde em sabor e qualidade, e
tem que jogar o alimento fora",
diz Milene Massaro, 38, diretora do Centro de Segurança Alimentar da Secretaria de Agricultura de São Paulo.
Um hipermercado pode desperdiçar, por mês, até 2.000 kg
de alimentos bons para o consumo, mas não para a venda.
Em 2007, 24 mil toneladas de
material orgânico (partes de
hortaliças ou comida considerada imprópria ao consumo)
foram descartados na Ceagesp.
O ciclo de desperdício segue
nas feiras-livres, onde a perda
estimada, em São Paulo, é de
mil quilos por dia. "Não é desperdício. Parte são alimentos,
mas o resto são talos e ramos",
diz José Roberto Graziano, supervisor de abastecimento da
Secretaria de Coordenação das
Subprefeituras. Segundo ele, a
quantidade de frutas e hortaliças perdidas é pequena perto
do que é vendido.
Mas, para a Embrapa, a perda
de hortaliças nos pontos-de-venda chega a 50%, dependendo do item. "Cerca de 40% das
perdas são causadas por quedas
e manipulação errada", diz Celso Moretti, 41, engenheiro da
Embrapa. Para ele, é preciso
passar informações e tecnologia a atacadistas e varejistas.
"Num país onde muitos têm
deficiência de vitaminas, superar esse problema é um desafio
colossal", diz.
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