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BAGAGEM [compras mundo afora]
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Nem parece um shopping
center, e foi justamente por sua
arquitetura antimonotonia que
o Village Sanlitun, inaugurado
durante as Olimpíadas de
2008, virou uma grande atração turística em Pequim.
Em vez de um único caixotão
sem janelas com ar-condicionado e iluminação artificial o
tempo todo, como a maioria
desses centros comerciais, o Village é formado por 19 predinhos de três e quatro andares,
desenhados por arquitetos de
várias partes do mundo.
O shopping de 135 mil m2 é
todo aberto. Não há muro ou
portas e o mesmo material das
amplas calçadas é empregado
em suas galerias e corredores.
As 250 lojas são conectadas
por vielas, pequenas praças
com bancos, árvores e obras de
arte ao ar livre, em uma distribuição inspirada nas ruazinhas
do centro histórico de Pequim.
Algumas marcas ocupam sozinhas prédios inteiros. É o caso da Adidas, com mais de
3.000 m2 em uma construção
de quatro andares revestida de
vidro espelhado e ondulado.
Na praça principal, DJs e artistas se apresentam, um telão
LED exibe clipes e uma fonte
de águas saltitantes vira um
molhado playground para as
crianças se ensoparem.
"O modelo de shopping center do século 20 está morto e
vai contra qualquer noção de
sustentabilidade", disse à Folha o arquiteto Chris Law, responsável pelo plano piloto para
o conglomerado Swire, dono
do Village.
Ele chamou o japonês Kengo
Kuma e arquitetos de seis países para criar esse espaço heterogêneo, como um microcosmos da cidade, em vez de uma
sucessão de vitrines.
Os andares superiores são ligados por pontilhões e coroados por 30 restaurantes com
terraços - nada que lembre a
claustrofobia das praças de alimentação dos shoppings.
Um desses restaurantes, o
Element Fresh, é o mais próximo que Pequim tem do paulistano Spot. Endereço para ver e
ser visto, com um cardápio enxuto e básico, atrai as beldades
locais em dieta permanente -
as saladas são o forte do lugar.
No mês que vem, a praça
norte do shopping será inaugurada ao redor do hotel Opposite House, que também faz parte do complexo. As onipresentes e previsíveis marcas globais
Rolex, Longchamp, Agnès B.,
Roberto Cavalli e Montblanc
abrirão filiais ali, comprovando
que a originalidade arquitetônica do empreendimento não
foi estendida ao mix de lojas.
Apple reina
A desaceleração da economia
chinesa é comprovada no Village, onde a ocupação da praça
principal e das áreas comuns é
inversamente proporcional à
das lojas, vazias na maior parte
do tempo. Só a Adidas, a grife
japonesa Uniqlo e os restaurantes vivem cheios.
A loja mais movimentada é a
da Apple, um cubo cinza de dois
andares com uma dramática
escada toda em vidro, sustentada apenas pelas extremidades,
sem nenhuma coluna.
Os chineses se aglomeram
para testar cada novidade, como o iPod Touch, que custa
1.598 yuans (US$ 235 ou
R$ 401) ou o MacBook de 7.998
yuans (US$ 1.172 ou R$ 2.005).
Filas nos caixas mostram que a
crise passa longe da Apple de
Pequim.
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