São Paulo, sábado, 31 de outubro de 2009

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BAGAGEM [compras mundo afora]

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Nem parece um shopping center, e foi justamente por sua arquitetura antimonotonia que o Village Sanlitun, inaugurado durante as Olimpíadas de 2008, virou uma grande atração turística em Pequim.
Em vez de um único caixotão sem janelas com ar-condicionado e iluminação artificial o tempo todo, como a maioria desses centros comerciais, o Village é formado por 19 predinhos de três e quatro andares, desenhados por arquitetos de várias partes do mundo.
O shopping de 135 mil m2 é todo aberto. Não há muro ou portas e o mesmo material das amplas calçadas é empregado em suas galerias e corredores.
As 250 lojas são conectadas por vielas, pequenas praças com bancos, árvores e obras de arte ao ar livre, em uma distribuição inspirada nas ruazinhas do centro histórico de Pequim.
Algumas marcas ocupam sozinhas prédios inteiros. É o caso da Adidas, com mais de 3.000 m2 em uma construção de quatro andares revestida de vidro espelhado e ondulado.
Na praça principal, DJs e artistas se apresentam, um telão LED exibe clipes e uma fonte de águas saltitantes vira um molhado playground para as crianças se ensoparem.
"O modelo de shopping center do século 20 está morto e vai contra qualquer noção de sustentabilidade", disse à Folha o arquiteto Chris Law, responsável pelo plano piloto para o conglomerado Swire, dono do Village.
Ele chamou o japonês Kengo Kuma e arquitetos de seis países para criar esse espaço heterogêneo, como um microcosmos da cidade, em vez de uma sucessão de vitrines.
Os andares superiores são ligados por pontilhões e coroados por 30 restaurantes com terraços - nada que lembre a claustrofobia das praças de alimentação dos shoppings.
Um desses restaurantes, o Element Fresh, é o mais próximo que Pequim tem do paulistano Spot. Endereço para ver e ser visto, com um cardápio enxuto e básico, atrai as beldades locais em dieta permanente - as saladas são o forte do lugar.
No mês que vem, a praça norte do shopping será inaugurada ao redor do hotel Opposite House, que também faz parte do complexo. As onipresentes e previsíveis marcas globais Rolex, Longchamp, Agnès B., Roberto Cavalli e Montblanc abrirão filiais ali, comprovando que a originalidade arquitetônica do empreendimento não foi estendida ao mix de lojas.

Apple reina
A desaceleração da economia chinesa é comprovada no Village, onde a ocupação da praça principal e das áreas comuns é inversamente proporcional à das lojas, vazias na maior parte do tempo. Só a Adidas, a grife japonesa Uniqlo e os restaurantes vivem cheios.
A loja mais movimentada é a da Apple, um cubo cinza de dois andares com uma dramática escada toda em vidro, sustentada apenas pelas extremidades, sem nenhuma coluna.
Os chineses se aglomeram para testar cada novidade, como o iPod Touch, que custa 1.598 yuans (US$ 235 ou R$ 401) ou o MacBook de 7.998 yuans (US$ 1.172 ou R$ 2.005). Filas nos caixas mostram que a crise passa longe da Apple de Pequim.


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