Mario Vargas Llosa disseca 'Madame Bovary' em 'A Orgia Perpétua'
A ORGIA PERPÉTUA
Gustave Flaubert é uma obsessão para o escritor peruano Mario Vargas Llosa desde quando ganhou uma bolsa de estudos em Paris e, ao chegar à cidade, em 1959, comprou um exemplar de "Madame Bovary". Neste longo ensaio sobre a obra mais famosa do escritor francês, publicado pela primeira vez em 1975, Llosa dedica-se a uma análise tripartida do clássico realista: o impacto do livro em sua carreira e seu encantamento por Emma Bovary, o detalhamento minucioso das escolhas técnicas na composição do livro, passando pelo uso dos tempos verbais e os tipos de narrador, terminando com a importância da obra para a literatura mundial.
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Llosa procura estabelecer os critérios para sua filiação literária, ressaltando as grandezas exemplares do mestre, e nos oferece uma excelente peça da chamada "crítica de escritor". Uma releitura apaixonada da história de traição e suicídio que mudou os rumos da literatura a partir de 1856. (ROBERTO TADDEI)
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Aulas de literatura
É incessante a Máquina Cortázar de Produzir Textos Póstumos. Nos últimos anos, a publicação da caudalosa correspondência do argentino inundou as livrarias com suas declarações de afeto e iconoclastia estética.
A transmissão mais recente do Planeta Cortázar é a biografia escrita por Miguel Dalmau, que explora o suposto caso incestuoso que "O Cronópio Fugitivo" (título do livro) teve com sua irmã Ofelia"¦ Pena que Julio não está aqui para se defender.
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Defesa por algo que valha a pena é a que Cortázar fez da literatura nestas aulas dadas na Universidade da Califórnia, em Berkeley, ao longo do outono de 1980, ao tratar de diferenças entre o fantástico e o realismo, elogiar as qualidades do conto latino-americano e explorar a gênese de seus próprios livros.
Em tom ameno de bate-papo, e com sessões de perguntas e respostas ao fim de cada aula, o leitor atual pode comemorar essas gravações, verdadeiras "mensagens lançadas na imensidão da ignorância e da miséria" que acabam por chegar ao seu destino. (JOCA REINERS TERRON)
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VAMOS AO QUE INTERESSA
O que sua lucidez implacável ilumina de nossa "era da brutalidade", seu humor ""outro nome para a inteligência"" torna menos insuportável nossa travessia.
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Nesta impressionante amostra das suas colunas para a Folha, desde 2008 até a atualidade, o cientista político português João Pereira Coutinho mostra que "o que interessa" é defender os grandes valores civilizatórios, a começar da liberdade, contra o que os ameaça ""dos terroristas islâmicos à corrupção bolivariana, passando pelos colaboracionistas intelectuais, que ele chama de "sábios mentecaptos", cuja hipocrisia, medo da irrelevância e frouxidão moral abrem caminho para as barbáries.
Com extrema agilidade mental e prosa envolvente, Coutinho nos leva pela mão (se a metáfora não soar paternalista demais para um intelectual cujo foco e talento é nos educar à independência) por questões polêmicas como o "racismo às avessas" dos defensores das cotas para negros, a censura a Monteiro Lobato e o atentado contra o "Charlie Hebdo", em Paris. (CAIO LIUDVIK)