Índice O ROTEIRO MAIS COMPLETO
DE SÃO PAULO
Guia da Folha
 

DE 5 A 11 DE SETEMBRO DE 2014

 

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... para chocar

Rafael Gregorio

Confira a seleção de obras e dicas do "Guia" para apreciar a 31ª Bienal de São Paulo, que começa neste sábado (6) no Ibirapuera

"É possível tirar a temperatura dos tempos atuais através da arte?". A questão de Charles Esche, um dos cinco curadores da Bienal de São Paulo, traça as direções do evento, cuja 31ª edição começa neste sábado (6), no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no parque Ibirapuera.

A interatividade e a crítica social dão o tom da mostra gratuita, em cartaz até 7/12. A primeira se manifesta já no mote "Como (...) Coisas que Não Existem", que convida o público a preencher as reticências com verbos: escrever, lutar, aprender e usar são exemplos.

A segunda reverbera na maioria das obras e se materializa na parceria com coletivos populares. Eles somaram ao programa atrações da zona sul de São Paulo (veja na pág. 14) e oficinas de arte na favela do Moinho, no centro.

A Bienal demanda o público; nem tudo é claro nos três pisos do pavilhão e a curiosidade determina a intensidade da experiência. Para facilitar, apontamos a seguir nossos destaques, dispostos em uma sugestão de trajeto.

São cerca de 250 trabalhos de mais de cem artistas --reserve ao menos três horas ou programe mais de uma visita. E, apesar da classificação livre, sugerimos não levar crianças pequenas e avaliar o preparo das mais velhas para as obras de conteúdo mais impactante.

A Fundação Bienal fornece um roteiro aos visitantes com dados sobre arte e espaço, como banheiros e proibição ao uso de flash. A maioria das obras têm descritivos e quase todas trazem QR Codes --códigos que reúnem dados e podem ser lidos por tablets e celulares.

Por fim, reunimos informações sobre como chegar ao pavilhão, além de um roteiro com mostras em cartaz em São Paulo que dialogam com a temática da Bienal ou com seu elenco.

Quando: de sábado (6/9) a 7/12; terça, quinta, sexta e domingo, das 9h às 18h (c/ permanência até as 19h), e quarta e sábado, das 9h às 21h (permanência até as 22h)

Onde: Pavilhão Ciccillo Matarazzo - av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 3, parque Ibirapuera, região sul, tel. 5573-9932

Quanto: GRÁTIS

Classificação: livre

Como chegar: de carro, acesse o parque Ibirapuera pelo portão 3 e estacione utilizando o sistema Zona Azul. De ônibus ou metrô, haverá uma linha circular (909P/10) saindo da estação Paraíso do metrô com destino à Bienal, com partidas de 15 em 15 minutos. Consulte o site www.sptrans.com.br para verificar as linhas de ônibus que atendem a região

Mais informações: www.31bienal.org.br

A (piso 1, lado direito)

Moinho Vivo
A obra ilustra o investimento desta Bienal na crítica social. Engajados em projetos na favela do Moinho, no centro de São Paulo, os grupos Comboio e Moinho Vivo exibem cartazes e inscrições que iluminam o que os moradores de lá veem como arbítrios do poder público. O lugar terá oficinas de criação durante o evento e um sarau no desfecho, em dezembro. Como no recorte de arte contemporânea que compõe esta edição, é difusa, aqui, a definição da denúncia: se é meio ou influência à produção ou se é, em si, a própria obra de arte.

Espacio para Abortar
Na instalação "Espacio para Abortar", que carrega também elementos que a aproximam da intervenção urbana, o coletivo boliviano Mujeres Creando reproduz em grande escala um útero humano. Nele, cortinas delimitam núcleos que servem, metaforicamente, como "espaços para abortar". A ideia desta abstração é denunciar o que as artistas veem como autoritarismo sobre o corpo feminino
e chamar a atenção para as implicações do aborto na vida e na liberdade da mulher.

Map
Historicamente empregados para nortear civilizações ou para assustar inimigos, os mapas são o objeto do trabalho artístico do chinês Qiu Zhijie. Na esteira de uma antiga tradição chinesa de mapear lugares imaginários, ele constrói narrativas, cidades fictícias e locais utópicos, mesclando, por exemplo, Che Guevara e o anarquismo em um mesmo continente. Com formação de calígrafo, Zhijie desenhou a obra à mão, com o auxílio de referências em um iPad -ainda era possível ver o artista dando toques finais ao trabalho na semana que precedeu
a abertura da Bienal.

B1 (piso 1, lado esquerdo)

Sem título
O artista Éder Oliveira se notabilizou por pintar tipos populares em muros de Belém, no Pará, Estado onde ele nasceu. Lá, as figuras retratam negros ou índios de origem pobre, destacados em técnica limítrofe do grafite. Para esta Bienal, ele preparou obra sem título que consiste em retratos de presidiários em enorme escala, ocupando um muro de cerca de dez metros de comprimento. A cor da pele dos personagens -negros, como a maior parte dos encarcerados no país- e os traços e luzes somam sentimento à figuração.

Wonderland
Conhecido por retratar questões sociais na Turquia, o que ergue polêmicas graças à escalada de protestos e manifestações nos últimos anos naquele país, o artista turco Halil Altindere apresenta o vídeo "Wonderland". Exposto na mais recente Bienal de Istambul, em 2013, o trabalho exibe uma espécie de jogo de esconde-esconde em imagens de jovens ciganos correndo da polícia em um local fictício. São nítidos os ecos das revoltas sintetizadas, no ano passado, no pleito da população de Istambul, maior cidade do país, pela manutenção do parque Taksim Gezi, ameaçado de destruição pelo governo.
Vila Maria
A artista bósnia Danica Dakic assina um dos trabalhos mais tocantes desta edição. Com Roger Avanzi, com integrantes da escola de samba Unidos de Vila Maria e com o fotógrafo Egbert Trogemann, ela mostra o vídeo "Vila Maria". Nele, narra livre e poeticamente a história do palhaço Picolino, criado por Nerino Avanzi e herdado por seu filho, Roger. Ele é o centro deste registro no entremeio do real e do abstrato: o derradeiro representante de cinco gerações de uma família circense.

Voto!
A recifense Ana Lira explora o contraste entre a detalhista construção de imagem por parte de candidatos a cargos públicos antes das eleições e o abandono desses retratos em pôsteres e panfletos depois do pleito, não raro em vias públicas. A artista passou a documentar tais resíduos em 2012 e, no processo, registrou intervenções anônimas de cidadãos que riscam, pintam ou rasgam as imagens. As vindouras eleições nacionais somam peso à obra.

C (piso 2, lado direito)

Dios Es Marica
"Dios Es Marica" ("Deus É Bicha") é uma obra conjunta que reúne três artistas e um coletivo notórios por explorar imagens religiosas, culturais e políticas, evidentemente com forte conteúdo crítico e mediante doses generosas de sarcasmo. Assinadas por Sergio Zevallos, do Peru, Nahum Zenil, do México, Ocaña, da Espanha, e a dupla Yeguas del Apocalipsis (Pedro Lemebel e Francisco Casas), do Chile, as obras datam dos anos 1970 e mesclam pintura, fotografia e performance para subverter os códigos católicos e denunciar a marginalização de desejos e sexualidades em desacordo com as normativas ecumênicas.

The Incidental Insurgents
Palestinos da Cisjordânia, Basel Abbas e Ruanne Abou-Rahme apresentam um retrato da terra natal que funde fatos e ficção em "The Incidental Insurgents" ("os insurgentes incidentais"). Fotos, textos, objetos, sons e excertos em vídeo se unem em um conjunto dividido em duas partes, cada qual contendo quatro narrativas que evocam personagens como Victor Serge e seus bandidos na Paris da década de 1910. Em foco, relações políticas e abusos de poder.

Zona de Tensão
O conjunto expõe trabalhos de Hudinilson Jr. (1957-2013) inspirados no emprego de outdoors publicitários como instalações artísticas. Obras em várias dimensões criadas a partir de reproduções xerográficas servem ao artista multimídia paulistano, que forma paisagens com peles e pelos, transformando o corpo e denunciando bloqueios políticos, sociais, morais e físicos ao pensamento homoerótico no contexto da repressão durante a ditadura militar brasileira.

Video Trans America
O trabalho do chileno Juan Downey consiste na proposta de uma videoexpedição de Toronto, no Canadá, até a Terra do Fogo, um conjunto de ilhas argentino-chilenas no pé da América do Sul. Nas imagens, captadas nos anos 1970, o artista registrou a convivência -não raro conflitante e desarmônica- entre as diferentes culturas que habitam o continente americano. É a hora e a vez da denúncia social sobre as imposições políticas na região, que remetem a suas raízes coloniais.

B2 (piso 2, lado esquerdo)

Línea de Vida/Museo Travesti del Perú
Entre a performance e a pesquisa histórica, o trabalho do filósofo e drag queen peruano Giuseppe Campuzano (1969-2013) rascunha uma narrativa gay da história do Peru. Objetos, imagens, textos e recortes de jornais questionam os modelos dominantes de representação humana, deixando em aberto definições sobre gênero e sexo. Transgêneros, travestis, transexuais e andróginos são os atores centrais dessa releitura.

Apelo
Filmado no Cemitério Dom Bosco, no bairro de Perus, na zona norte de São Paulo, e caracterizado pelo encontro entre paisagens urbanas e campestres, o vídeo de Clara Ianni e Débora Maria da Silva conecta atos de violência do presente e do passado. O espaço foi criado em 1971 pelo governo militar para receber cadáveres de vítimas do regime, em sua maioria desaparecidos. Coautora da obra, Débora teve o filho assassinado em 2006, supostamente por milicianos que se vingavam de ataques do PCC. Ela lidera o movimento Mães de Maio, com outras mulheres que perderam filhos na época.

Resimli Tarih
Em "Resimli Tarih" ("história ilustrada"), a turca Gülsün Karamustafa confeccionou a mão tapeçarias encontradas em casas de migrantes. Nelas, insere amostras do imaginário popular descartado pela intelectualidade da classe média em seu país. A colagem de sete metros de comprimento tem a forma de um caftã -túnica que simbolizava poder e riqueza no Império Otomano.

Errar de Dios...
O grupo Etcétera... usa como base a obra "Palavras Alheias..." (1967), do argentino León Ferrari (1920-2012) -a conexão é tanta que Ferrari é creditado como coautor. O trabalho inclui um roteiro escrito por Loreto Garín Guzmán e Federico Zukerfeld, em parceria com o filósofo Franco "Bifo" Berardi, que encena conversas de Deus com diversos pares, como um crente, a empresa Monsanto e o papa Francisco. É uma das obras mais impactantes da Bienal.

B3 (piso 2, lado esquerdo)

Nosso Lar, Brasília
O artista dinamarquês Jonas Staal evoca a criação de Brasília, em 1956, e a de Nosso Lar, cidade descrita pelo famoso médium Chico Xavier, que serviria de abrigo aos bons espíritos antes da reencarnação terrena. Distantes na teoria, os dois locais são aproximados pela visão crítica de Staal, que aborda também questões políticas, como a subserviência do povo à autoridade de governos.

Meeting Point
Neste conjunto de telas a óleo, o português Bruno Pacheco estuda agrupamentos de pessoas inseridas em manifestações de contextos ambíguos: talvez políticos, quiçá de confraternização. Na precisa definição da curadoria da Bienal, Pacheco realiza, nos itens, uma tendência recorrente da pintura contemporânea: a tomada de propriedades atribuídas a outros suportes. Neste caso, a fonte é a fotografia.

Los Incontados: um Tríptico
O coletivo de artistas Mapa Teatro - Laboratorio de Artistas, com sede em Bogotá, na Colômbia, apresenta trabalho que se apropria do conceito de tríptico, que diz respeito, na arte pictórica, a dispositivos constituídos de três partes. Na obra, guerrilha, narcotráfico e paramilitarismo compõem um tripé que se manifesta em ilustrações de restos de festividades.

Inferno
No vídeo da artista israelense Yael Bartana, um enorme templo religioso é aberto e destruído e tem seus escombros cultuados por fiéis. A referência ao Templo de Salomão, inaugurado recentemente na zona leste de São Paulo pela Igreja Universal do Reino de Deus, é explícita, e remete a casos históricos de construção e subsequente devastação de sítios religiosos, como o Muro das Lamentações.

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