CINEMA

O Homem Urso

Herzog encena embate entre homem e natureza

Ricardo Calil

O ambientalista norte-americano Timothy Treadwell conviveu com ursos-pardos do Alasca ao longo de 13 anos. Nos últimos cinco, também registrou em vídeo seu cotidiano com os animais. Em 2003, Tim e sua namorada foram devorados por um urso. As mais de cem horas de gravações feitas por Treadwell -que incluem o áudio de sua morte- foram o ponto de partida do fascinante documentário "O Homem Urso", de Werner Herzog.

Nas mãos de cineastas menos reflexivos, a história de Treadwell poderia ser transformada na saga de um ecochato com fim trágico ou de um mártir da ecologia. Herzog, no entanto, vê na traje tória de Tim uma reencenação de um dos conflitos centrais de sua obra: o embate entre civilização e natureza.

O cineasta deixa claro que tem um enfoque distinto ao do ambientalista nessa questão. Treadwell via sempre o animal como vítima e o homem como vilão. Herzog prefere mostrar esse confronto como uma luta de iguais.

Ele enxergou em Treadwell um símbolo de resistência ao poder -o mesmo que o alemão representaria na indústria cinematográfica atual. Com "O Homem Urso", o cineasta realizou uma obra tão rara quanto o personagem que retrata.