CINEMA

Juno

Comédia independente tem quatro indicações

Ricardo Calil

Como grande parcela das comédias independentes americanas (que se tornaram um subgênero com fórmulas específicas, mais do que um sistema de produção), "Juno" elege como objeto central um personagem excêntrico, vindo de uma família aparentemente disfuncional.

A protagonista é a precoce e desbocada adolescente Juno MacGuff (Ellen Page), que mora com o pai e a madrasta. Depois de uma transa com seu melhor amigo Paulie (Michael Cera), ela é surpreendida por uma gravidez indesejada. Na última hora, desiste de um aborto e decide ter a criança para entregá-la a pessoas em busca de adoção. Nos classificados de um jornal, Juno encontra Vanessa (Jennifer Garner) e Mark Loring (Jason Bateman), que, à primeira vista, formam um clichê de casal perfeito dos subúrbios americanos, mas são incapazes de gerar um filho.

A exemplo de "Pequena Miss Sunshine" (ao qual "Juno" vem sendo comparado de forma insistente, mas um tanto redutora), o filme tenta desconstruir a idéia de normalidade familiar, sugerindo que os MacGuff talvez sejam menos disfuncionais que os Loring. Mas a boa surpresa é que a comédia acrescenta um fato novo à fórmula. Mais do que forçar um confronto entre esses dois mundos (como "Sunshine"), o filme busca algum tipo de conciliação.

Contestadora na aparência, Juno é uma figura agregadora, que tem como melhor amiga uma "cheerleader". Como sua protagonista, "Juno" é um filme que parece oferecer uma alternativa, mas essencialmente prega uma conformação -entre famílias disfuncionais ou não, entre pessoas contra ou a favor do aborto, entre cinema independente e Hollywood. Mas é inegável que essa costura é muito bem urdida pelo talentoso diretor Jason Reitman ("Obrigado por Fumar") e incorporada com charme e energia por Ellen Page.