CINEMA

Senhores do Crime

Diretor deixa sua marca em filme de gângster

Sérgio Rizzo

Como em "Marcas da Violência" (2005), o canadense David Cronenberg abre "Senhores do Crime" - "tradução" policialesca que esvazia o lirismo ambíguo do título original, "Eastern Promises" (promessas do leste)- com uma seqüência violenta que já inscreve a trama na tradição do filme de gângster, da qual a trilogia "O Poderoso Chefão" (71-90) talvez seja a lembrança mais imediata.

Mas, assim como o seriado "Família Soprano" (99-07) contribuiu para renovar as coordenadas do gênero, Cronenberg impregna de características bem peculiares esse universo, que se torna mais complexo (e, por tabela, mais sedutor). Para o grande público, funciona de maneira satisfatória como um filme de implacáveis mafiosos russos estabelecidos em Londres. E, para os habituados aos caminhos tortuosos do cineasta, recompensas extras são oferecidas.

O espectador passa por um processo de imersão nesse ambiente hostil ao lado de uma enfermeira (Naomi Watts, de "21 Gramas" e "King Kong") que resolve procurar a família de uma jovem morta no hospital onde trabalha. A moça deixou apenas um bebê, que provavelmente será levado para adoção, e um diário, escrito em russo. Na tentativa de traduzi-lo, ela vai parar em um restaurante cujo proprietário (Armin Mueller-Stahl) se oferece para ajudá-la.

O contato a aproxima do filho do sujeito (Vincent Cassel) e de seu companheiro inseparável, motorista da família (Viggo Mortensen, de "O Senhor dos Anéis" e "Marcas da Violência", que disputa o Oscar de melhor ator). Começa então a andar uma história de mortes e traições que se conecta com um engenhoso jogo simbólico em que se destacam a figura paterna e as marcas de identidade.