CINEMA

Moacir Arte Bruta

Artista recluso é registrado em documentário

Ricardo Calil

Quinze anos atrás, o diretor de fotografia Walter Carvalho conheceu por acaso o artista plástico Moacir em uma viagem pela Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Um personagem fascinante: com problemas de fala, audição e formação óssea, Moacir criou um universo artístico próprio, habitado por capetas com chifres, genitálias em forma de peixe, cobras que mudam de forma.

Em 2003, Carvalho voltou ao local para registrar o artista no documentário "Moacir Arte Bruta". Com um personagem desses, a tarefa do diretor parece simples. Não é. Primeiro, porque Moacir desenha antes seu mundo interior do que o exterior, um lugar aonde a câmera não chega. Carvalho supera essa limitação ao preservar o mistério do artista e descartar diagnósticos psiquiátricos.

Interessante a cena em que Moacir vê na TV um leilão de pinturas acadêmicas, sem a originalidade de seus desenhos. Em vez de forçar um contraponto, o documentário tenta entender como o artista digere aquelas informações. E, de alguma forma, ele as assimila, pois sai em sua bicicleta fazendo propaganda de sua obra. A arte de Moacir pode ser bruta. De ingênua, ela não tem nada.