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27/11/2011 - 08h37

Ex-mandachuva da Globo, Boni lança livro de memórias

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MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, por mais de trinta anos foi o todo poderoso da rede Globo. É considerado um dos fundadores da televisão brasileira moderna, ao lado do executivo Walter Clark. Sob sua batuta decolaram telenovelas e programas de estrondoso sucesso.

Boni também arquitetou a matriz estratégica da Globo, integrando as áreas de produção, entretenimento, jornalismo. E teve papel fundamental no projeto de integração nacional da emissora. Se hoje a Globo detém 45% da audiência e 72% do faturamento publicitário entre as TVs, deve grande parte disso a seu legado.

Boni precisou de 4 meses para colocar em mais de 400 páginas as suas memórias profissionais, "O Livro do Boni" (ed. Casa da Palavra).

Rafael Andrade/Folhapress
Boni, que esta lançando sua autobiografia, posa para fotos em seu escritório no bairro do Leblon
Boni, que está lançando sua autobiografia, posa para fotos em seu escritório no bairro do Leblon

Os capítulos iniciais dão conta de seus primeiros passos no universo da comunicação. Ele conta que desde criança gostava de assistir televisão, inclusive a "chuvinha na tela" quando saía do ar. Publicitário de mão cheia, criou slogans como o famoso "Varig, Varig... Varig!". Foi dono de gravadora, de produtora, passou por várias rádios e TVs até chegar na Globo.

É quando o livro esquenta. Recheado de histórias de bastidores, Boni desfia suas glórias e angústias. As idiossincrasias dos artistas que passaram pela casa. O conturbado relacionamento com os governos (militares e pós militares). Roberto Marinho em pessoa.

Dirigindo atualmente a TV Vanguarda, retransmissora da Globo na região do Vale do Paraíba, que fatura 80 milhões de dólares por ano e da qual é dono, Boni recebeu a Folha em seu escritório no Baixo Leblon, no Rio de Janeiro, de onde se avista o mar nas janelas frontais, e o Cristo Redentor na parte de trás.

Como compara a televisão do seu tempo com a de hoje?
Acho que se perdeu muito do espírito artístico da coisa. A TV Globo teve três fases: a primeira, que é a minha, em que o artístico comandava a empresa. Depois a da Marluce onde o administrativo comandava. E hoje temos a fase do Octavio Florisbal, que pelo menos é mais saudável, onde é o comercial que comanda. No meu entender, a finalidade última da TV é artística, e não comercial, nem administrativa. A TV não pode obrigatoriamente estar a serviço do mercado.

As novelas estão em crise, perdendo audiência.
Antes havia uma densidade maior, os autores tinham a preocupação não só de entender problemas relativos à audiência, mas sim com o conteúdo: havia diálogos maiores, interpretação melhor, uma direção mais sofisticada, menos gritos. Obedecia-se aos mesmos princípios básicos do folhetim, mas era menos superficial.

O futuro estaria nas sitcoms?
A novela não se exauriu. O problema é que hoje há uma repetição exaustiva da fórmula. E se produz demais, desnecessariamente. Fica tudo com cara de minissérie. Quando a coisa se fecha e bate palma pro próprio umbigo, fica crítica. Já o sitcom, é muito difícil de acertar. É um gênero que a gente não domina. Não há nada mais difícil do que escrever comédia de situação.

A grade da Globo continua parecida com a que você criou há 40 anos.
Essa grade de hoje já foi pro espaço. O modelo de TV que a gente segue atualmente está exaurido. Vai existir por mais um tempo, mas, com internet e TV a cabo, é fundamental mudar. No futuro, ninguém vai ficar sentado esperando que a TV passe um programa. Serão modificações radicais.

Onde visualiza o futuro da comunicação?
Evidente que venho correndo pra internet. Especialmente aplicativos para dispositivos móveis onde se tem a possibilidade de acesso imediato e específico daquilo que você quer. Vejo que o futuro esta aí nos tabletes, smartphones e smart-TV. A TV não vai morrer, como continuou a existir o rádio. Mas precisa se reinventar.

E a publicidade?
O negócio do anúncio de 30 segundos morreu. Note que as garotas propaganda voltaram: outro dia vi Ana Maria Braga fazendo uma propaganda-reportagem que durou quatro minutos.

Que achou das Olimpíadas na Record?
Do ponto vista de audiência, não será importante. Mas do prestígio, sim. Uma emissora líder não pode perder essa transmissão.

Que acha de programas como o "Chaves"?
Eu não teria na Globo, mas pensando bem não acho que os Trapalhões sejam diferentes.

E Silvio Santos?
É o "Chaves", de novo você está me perguntando a mesma coisa.

E o "BBB"?
Também não acho que seja um programa, eu teria escondido, embora o Boninho faça o melhor "BBB" do mundo inteiro. Mas eu não quero ouvir aquele texto, em dois minutos tenho vontade de quebrar a TV.

E o "CQC"?
Eles gritam muito, se "paniqueirizaram". Quando criticam, tudo bem. Mas quando agridem, não. Tinha tudo pra ser um programa perfeito. O que tenho mais horror hoje na TV é o grito, como no "Pânico". Sou inocente! Por que estão gritando comigo?

E do que você gosta?
Notícias, jornalismo. E "Mad Men", "House".

Como foi a relação da Globo com o governo militar?
Dr. Roberto ficou entre a cruz e a espada. Ideologicamente, sempre apoiou a economia de mercado. Gostou que os militares vieram para evitar o comunismo, venerava isso. Mas depois do AI-5, viu que aquilo ia demorar e ficou aflito. Passou de poderoso para ameaçado.

Por que você saiu da Globo?
Saí no auge do lucro, do controle orçamentário e da qualidade, porque saí não sei (risos).

Qual o lado b do Boni?
Eu triturei minha vida pessoal trabalhando para televisão. Assistia todas as gravações e depois do Jô ainda ia jantar. Das três famílias que tive, pelo menos duas botei no liquidificador. Minha parte pessoal sempre foi desequilibrada, não soube administrar com a mesma eficiência da televisão.

 

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