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06/04/2012 - 11h09

Em Bogotá, Tim Robbins leva ao teatro "1984", de George Orwell

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RAQUEL COZER
ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ, NA COLÔMBIA

A certa altura de "1984", distopia de George Orwell sobre um Estado totalitário, o protagonista descobre o verdadeiro conceito do slogan "guerra é paz", que os cidadãos de seu país repetem à exaustão: para neutralizar os ânimos, nada como inventar uma guerra.

Durante os anos Bush, o ator americano Tim Robbins, de posicionamento democrata, entendeu que a guerra contra o terror ilustrava bem a premissa descrita por Orwell em 1948.

Em 2006 decidiu levar a história aos palcos, pela companhia de teatro independente que dirige, The Actor's Gang. A peça, adaptada por Michael Gene Sullivan, passou por quatro continentes.

Nesta semana, "1984" chegou ao quinto deles, dando, no Festival Ibero-Americano de Teatro de Bogotá, início à turnê sul-americana. Uma passagem pelo Brasil foi negociada com o Festival de Teatro de Curitiba, mas as conversas não avançaram.

Vencedor do Oscar pela atuação em "Sobre Meninos e Lobos" (2003), o ator virou a grande atração do festival, que acaba neste domingo. Em conversa com jornalistas, viu relações entre as ideias de Orwell e a atual situação de governos sul-americanos.

"Quando um governo põe escritores na cadeia, me perde como apoiador. Vejo isso na América Latina. Não gosto do que acontece em Cuba", disse, em Bogotá.

Jean-Louis Darville/Divulgação
Cameron Dye e Keythe Farley em cena da peça "1984", adaptação da obra de George Orwell
Cameron Dye e Keythe Farley em cena da peça "1984", adaptação da obra de George Orwell

Mas não é só política a atualidade de "1984", na visão de Robbins. Está na forma como as pessoas estão abrindo mão da privacidade. "Isto aqui é o meu rastreador", exemplificou, mostrando o telefone celular.

Para ele, Orwell foi visionário ao entender que a população permite a opressão. "Sempre que você altera seu comportamento para evitar problemas, dá poder ao Big Brother. O controle é alcançado pela intimidação e, dos elementos que criam medo, a TV é a mais forte."

Robbins resolveu levar o aprendizado à prática. Há três anos, diz, não liga a TV. "Orwell escreve em '1984' sobre os dois minutos de ódio, em que as pessoas ficam em frente às telas gritando. Percebi que tinha duas horas diárias de ódio em frente à TV."

Menos linear que o romance, a peça é, no entanto, fiel ao texto original. Sobre o palco, o cidadão 0679 Smith aparece de roupas de baixo, algemado, obrigado a rememorar o que aconteceu até ser preso. É instado pelo Big Brother, cuja voz vem da plateia, a falar sobre a mulher que ama e sobre o diário e o livro encontrados em seu poder.

O desafio foi tornar a história bem-humorada. "A primeira versão não tinha humor. Vivíamos os anos Bush, descobríamos as prisões de Guantánamo, Abu Graib, a peça era bruta, cinza."
Nas "várias encarnações", ganhou humor sutil.

Smith e quatro policiais se alternam em papeis para reconstituir a história ""em dado momento, um dos policiais, interpretando Smith, é preso e, com todos os outros policiais ocupados com outros papeis, resta a Smith interpretar o homem que vai prender ele mesmo.

Há 31 anos no comando do Actor's Gang, Robbins diz que o teatro lhe permite fazer o que quer.

"Essa sensação de liberdade artística muitos poucos têm em Hollywood."

A jornalista RAQUEL COZER viajou a convite do Instituto Distrital de Turismo de Bogotá.

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