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12/08/2012 - 03h00

Mauricio Stycer: 'The Newsroom', telejornal dos sonhos

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Num artigo recente na "New Yorker" (9/7), "Seeing it Now", o professor Louis Menand coloca em seu devido lugar, para não dizer que desconstrói, dois mitos do telejornalismo americano.

Primeiro, escreve ele, a queda do senador Joseph McCarthy, em 1954, deve-se muito menos ao famoso programa que Edward R. Murrow fez a seu respeito na CBS, como mostra o filme "Boa Noite e Boa Sorte", do que à cobertura intensiva da ABC sobre as famigeradas sessões do Senado.

Segundo, diz, não há provas consistentes de que o presidente Lyndon Johnson tenha desistido de se candidatar à reeleição, em 1968, depois de assistir a "Report from Vietnam", realizado por Walter Cronkite, assim como não passa de lenda que tenha dito: "Se perdemos Cronkite, perdemos metade da América".

Murrow e Cronkite são personagens centrais na história do jornalismo americano. Não à toa, são homenageados na vinheta de abertura de "The Newsroom", badalada série da HBO que acaba de estrear no Brasil.

Igualmente, não é sem razão que estes dois episódios lendários são citados numa das cenas finais do primeiro episódio. Depois de anos e anos lendo notícias sem comentá-las, o âncora Will McAvoy (Jeff Daniels) dá uma guinada na carreira e é convencido a imprimir um tom mais crítico ao noticiário que apresenta.

Ainda em dúvida sobre o sucesso da mudança, McAvoy é incentivado pelo veterano Charlie Skinner (Sam Waterston), chefe do jornalismo da rede de televisão, a apostar neste novo rumo para o telejornal.

Na própria sala de trabalho, em torno de uma garrafa e dois copos de uísque, um clichê clássico, Skinner recita: "Âncoras com opinião não são uma novidade". E decreta: "Murrow tinha uma opinião e pôs um fim a McCarthy. Cronkite tinha uma opinião e pôs um fim no Vietnã".

"The Newsroom" se constrói, portanto, muito com base na alta conta que os jornalistas têm a respeito do próprio trabalho. Ainda assim, o seriado tem o mérito de colocar em pauta um assunto que, de fato, interessa a um público maior: a qualidade do telejornalismo produzido hoje --e não apenas nos Estados Unidos.

Nitidamente, o pano de fundo de "The Newsroom" é o terremoto causado no "sistema" pela Fox News, do grupo Murdoch, com seu jornalismo de orientação conservadora, sem pudor de parecer enviesado.

A CNN, tida como um padrão do modelo "só notícias", perdeu não apenas audiência como o próprio rumo, enquanto âncoras e comentaristas vistos como liberais ganharam espaço em diversas emissoras.

O telejornalismo brasileiro já ensaiou algumas experiências com "âncoras", no sentido discutido em "The Newsroom". Mas poucas prosperaram. O pioneiro Boris Casoy (Band) eventualmente manifesta sua opinião sobre determinados fatos, mas o modelo hegemônico ainda é o "só notícias".

Sinal do atraso em que a discussão sobre a qualidade do telejornalismo se encontra no Brasil é uma novidade recente na Globo --o esforço para fazer os seus apresentadores parecerem mais naturais.

William Bonner e Patrícia Poeta passam a noite trocando olhares no "Jornal Nacional", enquanto Evaristo Costa e Sandra Annenberg ganharam manchetes por conta de piadas feitas ao vivo no "Hoje".

Diante dos dilemas de McAvoy, isso ainda é a pré-história.


mauriciostycer@uol.com.br
@mauriciostycer

 

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