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Livro é fruto da renúncia de Mainardi pelo filho
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RODRIGO LEVINO
EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"
A primeira vez em que Diogo Mainardi tratou da paralisia cerebral do seu filho mais velho, em 2001, na coluna semanal que mantinha na revista "Veja", o chamou de "meu pequeno búlgaro".
Diogo Mainardi volta à literatura com relato sobre a paralisia cerebral de seu filho
A titulação, justificou ele, se dava pela completa incompreensão do problema que se agigantava com o diagnóstico recente da doença que prejudicou a coordenação motora e parte do intelecto de Tito.
Era como, comparou, descobrir que tinha um filho búlgaro, sobre o qual nada compreendia.
A exposição do tema, numa época em que sua persona pública já dividia opiniões por causa do modo zombeteiro como tratava a política e a cultura nacionais, abriu um flanco para os detratores.
"Se você pesquisar na internet por 'Diogo Mainardi + filho + débil mental' ou qualquer insulto do tipo, vai encontrar centenas de comentários em sites e blogs."
Nada disso, diz Mainardi, o atingiu ou ao filho, que hoje divide brinquedos com Nico, quatro anos mais novo.
"As ofensas dirigidas a mim que mencionavam a paralisia de Tito eu usava como índice da canalhice alheia. Jamais me deixei abalar por nenhum xingamento por um motivo simples: eu aceitei o problema do meu filho com naturalidade, entusiasmo e deslumbramento."
POLÊMICA E RENÚNCIA
Autor de cinco romances, o primeiro deles, "Malthus", vencedor do Prêmio Jabuti de 1990 ("veja só, uma carreira claramente descendente", se autodeprecia), Diogo Mainardi passou a intervir no debate nacional em 1999, de porte de um espaço na revista de maior circulação nacional.
Como cronista --é assim que ele se define--, tratou de achincalhar o que via de sua janela. "E não eram passarinhos amarelos, era o PT montado em mitos nacionais. Eu achei que era uma boa dar um chute no traseiro desse pessoal e desconstruir esse mitos". Foi o que ele tentou repetidamente até 2010.
"Depois perdeu a graça. Justo por causa da repetição."
Fadigado, se aferrou ao chamado que se anunciava desde que Tito nasceu: contar a história do que para ele é o maior amor do mundo.
Em 2007, a justiça italiana condenou o hospital de Veneza a ressarcir a família Mainardi, que estava morando no Rio, em 3,2 milhões de euros (cerca de R$ 8 milhões).
"Foi um alívio saber que a partir dali eu poderia morrer. Antes, eu não tinha esse direito, pois só conseguia garantir o presente dele, não o futuro, como a indenização permitiu."
Três anos depois, Mainardi voltou à Itália, deixou a coluna e se recolheu ao que chama de "realidade microscópica": o apartamento onde vive, o mercadinho do bairro, a doceria da praça e a escola das crianças.
"Eu renunciei à minha soberba literária e deixei de ser o narrador da minha vida", diz ele, entregando o posto a Tito, um traquinas que fala português com forte sotaque.
A escolha por se afastar do personagem público que alimentava e deixar o país, segundo ele, não foi uma curva fora de sua trajetória.
"O que eu fiz de melhor a vida inteira foi abandonar lugares onde vivi", conta.
Agora, pretende permanecer em Veneza, embora reconheça a boa vida que levou por nove anos no Rio.
Houve quem dissesse, quando Mainardi partiu, que ele deixava o país por medo de ser preso, fruto de processos judiciais movidos por desafetos. "Um absurdo. Se há algo que eu tenho intacto é a minha primariedade", rebate.
Hoje, enfastiado da política nacional, diz que cumpriu o seu dever e deu "a real dimensão histórica dos fatos recentes da política brasileira".
Foi assim quando produziu pérolas como um depoimento do ex-deputado José Janene (1955-2010), em que ele acusava o então ministro José Dirceu de ser o artífice do mensalão, coletado num gravador de brinquedo de Tito.
Apesar de recluso, ele se impõe. As menções maldosas e mais recentes a seu nome aconteceram quando morreu Gore Vidal (1925-2012), de quem ele era próximo. "Eu virei a maior bichona do Brasil. A canalha não dá descanso!", gargalha.
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