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30/08/2012 - 04h44

Peças póstumas de Lygia Clark provocam debate

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SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Entre as obras da retrospectiva de Lygia Clark no Itaú Cultural estão três trabalhos póstumos. São execuções, ou interpretações, de projetos que ela escreveu em vida, mas não chegou a produzir.

Obra de Lygia Clark é revista em grande retrospectiva paulistana

No caso de artistas modernos como Rodin e Degas, que tiveram edições de suas esculturas fundidas em bronze após a morte, essa é uma prática considerada comum.

Mas na arte contemporânea é algo que levanta questões éticas sobre as intenções do artista com aquela obra e suas pretensões de comercializá-las no mercado.

"Filme Sensorial", uma dessas obras, era só um roteiro deixado por Clark em que ela indicava que a obra seria uma trilha sonora de sons do cotidiano --um galo cantando, uma torneira aberta, um trem chegando-- acompanhada de projeções de luz.

Dessa descrição, produtores da mostra, em conversas com os herdeiros de Clark, criaram a instalação que está na retrospectiva da artista.

"Ela não deixou nada escrito em relação à arquitetura. Só esse roteiro", diz Felipe Scovino, um dos curadores da mostra. "São formas mutantes, por isso a família as está produzindo."

Outra obra póstuma, "O Homem no Centro dos Acontecimentos", é a execução de um projeto descrito de forma sucinta, só 12 linhas de um texto publicado pela artista.

Suas instruções indicam que alguém deveria instalar quatro câmeras num capacete e andar por um cenário urbano, registrando tudo o que se passa a seu redor. Depois as cenas seriam projetadas nas quatro paredes de uma cabine para que o espectador revivesse essas cenas todas.

Clark não explicitou, no entanto, que cenas seriam essas nem onde isso deveria ser filmado, tampouco o formato da cabine em que as imagens seriam projetadas.

De acordo com Alessandra Clark, neta da artista, a tecnologia atual substitui a da época, que seria filme em oito milímetros. Mas a herdeira não considera essa uma obra póstuma e nega que haja intenção de vender a obra.

"Não se trata de iniciativa comercial, não há qualquer obra para venda", diz ela."É importante ressaltar que Lygia deixou por escrito o conceito de suas obras, incluindo os projetos que não foram realizados em vida."

Jones Bergamin, da Bolsa de Arte, casa de leilões que opera em São Paulo e no Rio, afirma que, mesmo que sejam vagos os projetos originais da artista agora executados, essas obras são consideradas de autoria dela.

"Vai existir uma diferença de preço. Obras póstumas valem menos do que aquelas feitas em vida", afirma. "Mas essa obra tem validade."

 

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