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15/10/2012 - 03h13

Pianista Keith Jarrett, que já tocou com Miles Davis, se apresenta no Rio e em SP

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SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Na voz do heterônimo Alberto Caeiro, o poeta Fernando Pessoa (1888-1935) escreveu que "há metafísica bastante em não pensar em nada". Aos 67 anos, o pianista Keith Jarrett parece viver na própria pele esse jogo entre plenitude e vazio.

Há quase 40 anos, o músico norte-americano transcendeu o jazz e cativou um público fiel, do pop ao erudito, com o álbum "Köln Concert", de improvisações livres ao piano gravadas ao vivo.

Jarrett fará dois recitais de piano solo neste mesmo formato no Brasil nas próximas semanas: dia 24, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e dia 29, na Sala São Paulo.

Não há programa estabelecido, já que, como de hábito, suas composições são improvisadas no momento.

"[Ao dar início a um show] Eu me sinto tão no escuro quanto o público", disse à Folha sobre o risco que corre ao apostar na improvisação.

Daniela Yohannes/Divulgação
O pianista Keith Jarrett, que se apresenta em São Paulo e no Rio
O pianista Keith Jarrett, que se apresenta em São Paulo e no Rio

No palco, Jarrett lança mão do uso obstinado de células rítmicas quebradas, de certos perfis melódicos, de contrapontos específicos e de uma peculiar escolha de tonalidade. Certamente há um "estilo Jarrett".

Ele, entretanto, não entra neste terreno: "São questões para os musicólogos descobrirem. Não é minha função definir meu estilo". "Não analiso ou penso ou separo funções do resultado", disse.

Na contramão das escolas de jazz --que muitas vezes tratam a improvisação como uma prática mecânica que alterna padrões e clichês---, o músico defende a pura conexão com o momento presente: "Quando estou tocando, não penso em nada".

Para quem faz música tonal, dó maior é a escala mais simples, a que tem fundamento apenas nas teclas brancas de um piano. Será que ainda há algo a ser expresso em dó maior? Jarrett gargalha: "Claro que sim. Ainda há muito por fazer!".

Sua preparação envolve tanto tocar como evitar o piano: "Quando estou em casa, toco diariamente. Mas quando tenho uma apresentação, faço questão de não chegar perto do piano até o momento de subir ao palco".

Seus álbuns antológicos estão ligados aos locais onde foram gravados, como o próprio "Köln Concert" e outros que o seguiram, gravados em Viena, Tóquio ou no teatro Scala de Milão.

"Tudo me influencia. Certamente a literatura me influencia. Mas não acredito que as influências musicais sejam diretas. Há músicas que gosto muito de ouvir, mas que parecem não influenciar o meu modo de tocar."

O exemplo surpreende: "Em geral, não ouço nenhuma música, mas recentemente tenho escutado bastante Elliott Carter", nome da vanguarda erudita americana nascido em 1908.

A relação com Miles Davis (1926-1991) é um capítulo importante de sua biografia.

Jarrett conheceu o trompetista no final da década de 1960 e participou, nos anos seguintes, de algumas lendárias gravações que estão na raiz do jazz fusion.

"Nunca houve ninguém como Miles. O dia de sua morte foi um péssimo dia para o jazz", disse Jarrett.

Pergunto se o mergulho na improvisação aposta em uma conexão entre particular e universal, entre ser essencial e o que Caeiro chama de "o mistério das cousas". "Sim", admite, "mas não sei explicar como isso se dá".

Na última vez em que tocou em São Paulo nem tudo deu certo: incomodado com os fotógrafos, ele foi embora sem terminar o primeiro bis. O concerto no Rio de Janeiro, por outro lado, gerou um elogiado CD duplo.

Será que chegou a hora de um CD de Keith Jarrett gravado ao vivo em São Paulo? Em sua lógica de improviso, não há como saber: tudo depende do momento.

KEITH JARRETT
QUANDO 24/10, às 21h, no Theatro Municipal do Rio (r. Almirante Barroso, 14; tel. 0/xx/21/2332-9244), e 29/10, às 21h, na Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, 16; tel. 0/xx/11/3367-9500)
QUANTO no Rio, entre R$ 100 e R$ 2.400; em SP, de R$ 200 a R$ 400
CLASSIFICAÇÃO não informada

 

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