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18/11/2012 - 05h36

Filósofo Homi Bhabha vê força de regionalismos na arte global

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SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Numa conversa com Luis Pérez-Oramas, homem que organizou a atual Bienal de São Paulo, o filósofo Homi Bhabha falou em iminência das poéticas, conceito que grudou na cabeça do curador.

Tanto que a ideia norteou não só a elaboração da mostra como acabou dando nome à sua 30ª edição, que está em cartaz até 9 de dezembro.

Bhabha é um filósofo indiano radicado nos Estados Unidos, onde dá aulas na Universidade Harvard, que se tornou conhecido como o maior nome em estudos pós-coloniais, o pensador que cunhou termos cruciais como o conceito de hibridização cultural.

Ele esteve em São Paulo e falou à Folha sobre suas teorias e como vê seus desdobramentos nas artes visuais. Leia a seguir trechos da conversa.

*

Folha - Como o sr. vê a mostra agora no pavilhão da Bienal? Acredita que o conjunto de obras traduz suas ideias?
Homi Bhabha - Tradução é a palavra certa, já que isso implica um equilíbrio entre fidelidade e liberdade em relação a um conceito. Vejo aqui uma combinação dessas forças.

O que significa sua ideia de iminência das poéticas?
Iminência tem a ver com tornar visível um valor intrínseco a alguma coisa, algo que já estava ali. É como pegar uma memória e dar a ela uma nova perspectiva simbólica, evocar anterioridades.

A iminência das poéticas é isso. É entender que as boas obras de arte são impossíveis de esquecer, mas também difíceis de serem lembradas porque têm muitos aspectos capazes de comover alguém.

Leo Eloy/Divulgação
O filósofo indiano Homi Bhabha
O filósofo indiano Homi Bhabha

Em seu ensaio no catálogo da Bienal, o sr. afirma que o papel do curador se aproxima do papel do artista. Por quê?
Em exposições como as bienais, curadores têm levado suas próprias visões interpretativas aos trabalhos. Eles entendem a importância de construir uma nova visão.

Nesse ponto, a curadoria se tornou um grande ato de cidadania cultural, uma tentativa de moldar um momento na arte, permitir máxima liberdade aos artistas ao mesmo tempo em que se propõe a escrever uma história do presente das artes plásticas.

Mas o peso das bienais e a multiplicação delas pelo mundo não arriscam causar uma padronização das linguagens?
Da mesma forma que muitos argumentam que não temos mais nações, mas um estado de "transnacionalidade", acredito que estamos dando peso demais a essa ideia [da padronização]. Não devemos ser tentados a enxergar uma neutralidade transnacional. É prematuro achar que as tradições regionais se dissolveram numa espécie de esperanto cosmopolita.

Como funcionaria seu conceito de hibridização cultural aplicado às artes visuais?
Quando propus essa ideia, não me referia à noção de mestiçagem cultural. Falo em lidar com situações em que o poder cultural é assimétrico.

Em analogia com o mundo da arte, sempre houve tradições artísticas dominantes, mas as tradições não dominam só porque os artistas são bons. Há um sistema de galerias, museus, publicações que as sustenta sempre.

Hibridização na arte tem a ver com o fato de o atraso na adoção de uma estética por aqueles que estão à margem das tradições dominantes poder ser uma vantagem, já que traduz a linguagem que estava no poder. Os trabalhos híbridos são mais desafiadores.

 

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