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27/11/2012 - 06h05

Gerald Thomas constrói diário visual em volume de ilustrações

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SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Numa parede de seu apartamento em Nova York, Gerald Thomas colou seu desenho de um tubarão que se afoga num copo d'água.

"É uma metáfora para o artista", diz Thomas, 58. "Ele é um predador. Morrem de medo dele, mas é um bicho idiota, que come tudo que vê pela frente, de latas de óleo diesel a pequenos peixes, e se espanta com um soco na cara."

Esse animal, também "sensível" e "machucado", está na capa de um novo livro de ilustrações do diretor teatral que sai agora pela Cobogó. E ele se repete, em variações, por quase todas as páginas, às vezes enfaixado em gaze, às vezes cuspindo sangue.

"Eu vomito muito sangue, por causa das úlceras", explica Thomas. De certa forma, suas pinturas e desenhos, muitos deles publicados como ilustrações de artigos no "The New York Times" ao longo de cinco anos, são também um diário visual do autor.

Em traços expressionistas, que beiram o grotesco, Thomas ilustra lampejos de uma vida pouco convencional.

Silenciadores de escapamento que ele via espalhados pelas ruas de Manhattan viram mísseis na Broadway, uma caixa de ovos se transforma em silos de usina nuclear e vacas esquartejadas do velho mercado de carne do sul da ilha foram parar no cartaz de uma de suas peças.

"Muito antes do World Trade Center cair, parecia que a gente era atacado por mísseis", conta. "E quando o Meatpacking District ainda não estava na moda, as vacas ficavam mesmo penduradas numa corrente. Elas iam passando, e os caras iam matando. Era uma coisa horrorosa, um cheiro horrível, mas é um modo de ver o mundo."

Esse filtro para as coisas da vida começou a ser moldado no Rio, quando Thomas tinha nove anos e frequentava as aulas de Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna. "Ele era um sujeito generoso, me tirou do meio das mulheres que ficavam pintando pêra e levou para um muquifo em Copacabana, com o Rubens Gerchman e o Hélio Oiticica."

Mas foi Ziraldo a "figura essencial" no processo. Thomas conta que o cartunista viu nele talento para a coisa e convenceu seus pais a deixar que ele ainda moleque saísse do colégio e fosse a Nova York.

E lá, de encontros com um Jean-Michel Basquiat antes da fama e Saul Steinberg, ele criou seu arsenal de peixes, guarda-chuvas destroçados e homens que vomitam tinta.

GERALD THOMAS - ARRANHANDO A SUPERFÍCIE
AUTOR Gerald Thomas
EDITORA Cobogó
QUANTO R$ 80 (224 págs.)

 

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