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30/11/2012 - 04h37

'Quero escrever sobre a geografia da alma e da família', diz Lya Luft

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TRAJANO PONTES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O nome de batismo é Lya, mas, quando descobriu num livro a palavra "açucena", que considerou a "mais linda", a menina Lya Luft pediu à mãe para mudar de nome.

"As gotas de orvalho brilhavam nas pétalas da açucena", dizia a obra que caiu na mão da menina, para quem a "palavra sempre foi uma espécie de tesouro interior".

Na noite da última quarta, a escritora, hoje com 74 anos, participou de sabatina promovida pela Folha em São Paulo. Ela foi entrevistada por Heloísa Helvécia, editora de "Equilíbrio", Jairo Marques, repórter de "Cotidiano", Morris Kachani, repórter especial, e pelo público.

A autora, que já vendeu mais de 1,2 milhão de livros, lança agora o romance "O Tigre na Sombra" (Record).

A personagem central tem uma deficiência na perna. Lya lembrou-se de que também nasceu com um problema na coluna que, hoje, faz com que use uma bengala.

"Eu não sei se pensava em mim quando inventei a menina da perna curta. Talvez."

Ainda que não negue traços autobiográficos na obra, a autora extravasa a coincidência do problema físico para a humanidade em geral.

Zé Carlos Barretta/Folhapress
A escritora Lya Luft durante sabatina da Folha
A escritora Lya Luft durante sabatina da Folha

"No fundo, todos nós temos uma perna curta. Pode não ser fisicamente, mas no coração, na mente, na alma. Todos temos um buraco na alma a preencher."

E para preencher esse vazio, a autora aponta que desempenha papel fundamental a família, tema constante de seus livros.

"Escrevo sobre como a família não deveria ser. Sobre a anti-família, quase. O berço de nossas neuroses. Aliás, família é isso. Ou berço de alegria e força, depende."

Apesar dos problemas que identifica, ela mantém o otimismo. "Há muitas famílias legais. O ser humano é trapalhão, mas não é burro. Vamos encontrar um equilíbrio."

ROMANCE ADULTO

Lya falou da realização tardia do sonho de escrever um romance. "Eu era tímida intelectualmente. Tive um acidente de carro e fiquei, durante um ano, com uma certa gagueira e com lapsos de memória."

Quando melhorou, ela decidiu fazer o que sempre quis: um romance.

"Acabei escrevendo 'As Parceiras', aos 40, 41 anos. Achei meu caminho de alguma forma."

Sobre o hiato de 13 anos entre o romance anterior e o atual, ela diz que escreve o livro que pede para ser escrito. "O vento sopra quando quer e não estava soprando naquele momento", compara.

Lya diz ter momentos felizes e tristes, como todas as pessoas. "Digo sempre que tenho um olho feliz que vive e um olho triste que escreve, meu lado mais melancólico".

A autora cita os contos de fada da infância como sua influência mais aguda. "[Deles] vem algo que sempre há nos meus livros: o belo e o cruel, o belo e o sinistro. Mesmo as famílias mais destroçadas dos meus livros têm um fluxo poético", explica.

Ela diz apreciar a identificação dos leitores com seus livros, mas confessa preferir ficar em casa a ter muito contato com eles. "Sou um pouco fóbica. O que as pessoas querem eu não posso dar, que é essa pessoa pela qual elas viajam cem, 200 quilômetros apenas para ver."

Diz gostar de viver em Porto Alegre, mas que não escreve literatura gaúcha. "Quero escrever sobre a geografia da alma e da casa [da família]."

 

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