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27/01/2013 - 06h24

Artista Theaster Gates se consagra com "política da pele"

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SILAS MARTÍ
EM LONDRES

Enquanto cantava os versos de "Four Women", música em que Nina Simone descreve quatro tipos de negras americanas --entre "amarelas", "bronzeadas", "marrons" e "pretas"--, Theaster Gates cobria o rosto com borrões de maquiagem feita para tons de pele mais escuros.

Esse artista, que também é negro e tem uma banda de blues, fazia ali uma performance para convidados na White Cube, em Londres, onde abriu uma mostra individual no fim do ano passado.

Todo o trabalho de Gates parece estar ancorado na questão racial. Em sua "política da pele", ele soube usar as armas do mercado da arte para atualizar o que antes seria tachado como panfletário.

Suas performances, instalações e esculturas, que refletem com acidez sobre a posição dos negros na sociedade americana, conquistou a crítica e virou a tradução visual dos EUA na era Obama.

Depois de passar pela Documenta, em Kassel, na Alemanha, essa ascensão meteórica foi coroada em Londres, onde ocupou a galeria mais poderosa da Europa, sem medo de afirmar que é "o grande artista negro do momento".

Em Chicago, onde nasceu e ainda vive, Gates aproveitou o colapso econômico de cinco anos atrás para comprar e reformar quase um bairro inteiro na periferia e lá instalou uma comunidade para artistas plásticos.

Depois,ele levou os destroços da construção nos Estados Unidos e expôs tudo como escultura na Documenta. Sua mostra em Kassel foi em outro prédio histórico que ele renovou ao longo da exposição, chamando operários brancos e negros para embaralhar os entulhos das cidades americana e alemã.

Divulgação
Instalação de Gates em Londres
Instalação de Theaster Gates em Londres

SUBJUGAR SEM MATAR

Essa ideia de ética do trabalho faz parte da obra. Em Kassel, toda sua entourage, entre músicos e assistentes, viveu com ele no prédio ocupado para a exposição, numa performance contínua.

Na mostra em Londres, Gates torrou centenas de milhares de libras para pendurar do teto da galeria um caminhão de bombeiros. O Ford de 1967 tem como contrapeso uma estante com toneladas de livros sobre a cultura negra nos Estados Unidos, incluindo relatos do surgimento dos primeiros cosméticos feitos
para negras no país.

"Não penso nesse caminhão sem imaginar o jato de água usado para conter as massas em manifestações pelos direitos civis, para subjugar sem matar", disse Gates à Folha, em Londres. "Isso se equilibra com o peso da história negra, a identidade, as crenças e a força deles."

Filho de um pedreiro, Gates, aliás, vem usando materiais de construção --como piche no lugar da tinta-- em seus desenhos e pinturas, aproveitando a inflação sofrida por qualquer objeto que entra numa galeria de arte.

"Sei que um quadro desses vale mais do que 30 telhados construídos pelo meu pai", diz Gates. "Uso o mundo da arte para falar de coisas muito maiores do que isso."

 

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