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06/02/2013 - 03h03

Análise: Versos retratam ressaca que se deu sobre a geração de Caio Fernando Abreu

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LUIS DOLHNIKOFF
ESPECIAL PARA A FOLHA

A poesia de Caio Fernando Abreu, inédita em livro e agora coligida cronologicamente (1960-1990), tem sua fase melhor no fim dos anos 1970, quando o eu lírico se volta para seus "companheiros de viagem" (em mais de um sentido): os integrantes de sua geração e suas circunstâncias.

Troca de poema de Caio Fernando Abreu por música de Gilberto Gil adia publicação

Era o "momento pós-utópico" do "the dream is over", a fria madrugada histórica de um tempo menos solidário e mais solitário, que tais poemas flagram.

A poesia testemunhal não tem seu valor no que testemunha, mas em como o faz. E aqui o testemunhal/confessional consegue ficar à altura da ressaca que se abateu sobre a geração da festa paradoxal dos anos 1960-70 (com seu pano de fundo na Guerra Fria).

Folhapress
O escritor Caio Fernando Abreu
O escritor Caio Fernando Abreu

Sua dicção sugere que a linguagem do modernismo ainda mantinha alguma reserva de energia para falar do e para o fim do século: há aqui paralelos temáticos com a ficção do autor, como as questões comportamentais da época, que se somarão a "subtemas" de sua predileção, como o mofo, as cidades onde viveu e a cultura de massa (música e cinema).

O melhor poema do livro é também desse período, "Realista nº 2". Sua primeira qualidade é a síntese, que resulta de um ocultamento

Ele fala do amor infantil ("tia Clara vestida de branco") e do precocemente senil ("supositório contra hemorroidas na farmácia suja"), mas não do amor juvenil.

Este "explicaria" --e justificaria-- como e por que se vai da pureza infantil à derrocada. Mas se revela um episódio olvidável entre a memória da infância e a experiência da decadência.
Incluindo a do amor afinal quase anulado pela solidão, reduzido à autopenetração por um objeto terapêutico.

Nem Eros nem erotismo. Se não há vida além da morte, há vida além do amor. Mas não há ilusão. Tampouco a de que todos os poemas de Caio mantêm a mesma fatura.

LUIS DOLHNIKOFF, é escritor e crítico literário, autor, entre outros, de "Lodo" (ed. Ateliê, 2009)

 

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