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Para governo brasileiro, viagens de autores são estratégicas
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RAQUEL COZER
COLUNISTA DA FOLHA
MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO
Os 70 nomes de Frankfurt são a parte central do elenco que o governo brasileiro leva à Alemanha neste ano. Antes da feira, haverá outros eventos, para os quais serão levados alguns poucos autores.
Seleção de escritores que representará Brasil na Alemanha tem estilos variados
À Feira de Leipzig, nesta semana, já foram nove deles: João Almino, Carola Saavedra, Age de Carvalho, Ronaldo Correia de Brito, Luis S. Krausz, Rafael Cardoso, Tatiana Salem Levy, Ronaldo Wrobel e Ricardo Domeneck.
A programação completa, com artistas de outras áreas, será anunciada em junho.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
"Tivemos o cuidado de divulgar logo os 70 para que tenham tempo de se programar, de divulgar seus trabalhos", diz o curador Manuel da Costa Pinto. A meta, afinal, é fazer com que a produção brasileira circule no exterior antes e depois da feira.
A Fundação Biblioteca Nacional não especifica o orçamento para as viagens e hospedagens --só as passagens de todos os autores, artistas e equipe de produção custarão R$ 700 mil.
No total, o país deve investir R$ 20 milhões na feira, incluídos eventos paralelos e o pavilhão brasileiro.
O país vem ainda apoiando traduções de obras brasileiras no exterior. Desde 2011, já foram concedidas 223 bolsas de tradução --dessas, 75 foram publicadas; a meta é chegar a 250 até outubro.
Entre os 70 de Frankfurt, foram privilegiados autores traduzidos no exterior. Menos de dez deles não o são.
EFEITOS
A Nova Zelândia, país convidado de honra da Feira de Frankfurt 2012, ainda hoje sente os efeitos da feira, na qual investiu R$ 11 milhões.
"Da média anual de dez traduções ao alemão nas duas décadas antes da feira, passamos a 84 só em 2012. E a contagem continua", diz Kevin Chapman, presidente da associação local de editores.
No Brasil, o Itamaraty também investe na exportação da cultura. Em 2012, seu setor de difusão cultural gastou R$ 10 milhões com eventos no exterior.
"É uma postura estratégica. Um país que exporta ideias pode convencer outros do valor de seus produtos e suas posições políticas", diz Joaquim Pedro Penna, chefe do setor de difusão.
Ferreira Gullar, Lygia Fagundes Telles, Augusto de Campos e Milton Hatoum, algumas ausências notáveis da lista, estão entre os autores que declinaram do convite do governo, por razões variadas.
Outros ausentes questionaram a seleção. "Costa Pinto já assinou uma quantidade industrial de resenhas, editoriais e matérias, todas destacando a singularidade de minha obra. Não são singularidades que o Brasil pretende mostrar em Frankfurt?", queixou-se o escritor Marcelo Mirisola.
"Reinaldo Moraes, Juliano Garcia Pessanha e Marcia Denser também foram excluídos. Como se explica que Marcelino Freire, notório fanfarrão, ocupe o lugar de um Ricardo Lísias?", completa.
O professor de literatura da Unicamp Alcir Pécora diz que "salta aos olhos a ausência de Reinaldo Moraes, autor do melhor romance brasileiro dos últimos dez anos", referência a "Pornopopéia".
Moraes não foi convidado e afirma que isso não o incomoda. "A lista está OK. Tem nomes novos, gêneros variados, autores de várias partes. A parte que me toca, a prosa, está bem representativa. Sobre o Paulo Coelho, acho legal, provocadora a inclusão dele. Há omissões, é claro. O Marcelo Mirisola deveria estar lá."
A repercussão lembra um pouco 1994, quando o Brasil foi o convidado pela primeira vez --o barulho foi muito grande na ocasião.
Segundo Costa Pinto, o recorte exigiu decisões --a lista inicial tinha 110 autores.
A Companhia das Letras foi a editora com mais autores: mais de um terço já publicou pela casa. O curador diz não ter sido assediado nem ter levado editoras em conta. "É natural grandes editoras puxarem para seu time autores representativos, assim como o Real Madrid e o Barcelona com jogadores."
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