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Vitória de Toyo Ito no Pritzker mostra força do Japão, mas chega requentada
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GUILHERME WISNIK
ESPECIAL PARA A FOLHA
O arquiteto japonês Toyo Ito é o vencedor do Prêmio Pritzker 2013, concedido pela Hyatt Foundation. Com 71 anos de idade, é o sexto japonês a conquistar o prêmio, considerado o Nobel da
arquitetura.
Antes dele vieram Kenzo Tange (1987), Fumihiko Maki (1993), Tadao Ando (1995), e a dupla Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa (2010). Sequência notável, que atesta a vitalidade da produção arquitetônica japonesa, certamente a mais sólida dos últimos 50 anos no mundo.
Ao eclodir na vanguarda metabolista das décadas de 1960 e 1970, através de Tange (1913-2005), Maki (1928), e de outros arquitetos inventivos e visionários, tais como Kazuo Shinohara (1925-2006), Kiyonori Kikutake (1928-2011) e Kisho Kurokawa (1934-2007), a arquitetura japonesa literalmente metabolizou a passagem do modernismo ao pós-modernismo em soluções tanto orgânicas quanto consistentes.
Sem ter os traumas do historicismo e do populismo, ela desdobrou-se na produção de uma nova geração protagonizada por Tadao Ando e Toyo Ito, ambos nascidos em 1941.
Discípulos de Ito, Sejima (1956) e Nishizawa (1966) já formaram uma impressionante nova geração de jovens arquitetos no país, todos eles fortes candidatos ao Pritzker nos próximos anos: Jun Igarashi (1970), Sou Fujimoto (1971), Junya Ishigami (1974) e Go Hasegawa (1977), entre outros.
MESTRE E APRENDIZ
Toyo Ito está entre Kikutake, de quem é seguidor, e Sejima, de quem é mestre. Isto é, entre o expressionismo tecnológico do primeiro e a assepsia sensual da segunda.
E de fato se deve a ele a transição da aspereza estruturalista anterior para formalizações mais próximas da sinuosidade natural, trocando a didática do peso pelo mistério de elementos construtivos mínimos e praticamente impalpáveis.
Em um mundo que deslocava progressivamente a ênfase do hardware ao software, Toyo Ito encontrou no nomadismo e na fragilidade referências cruciais para situar a arquitetura.
Leitor do filósofo Gilles Deleuze, formulou em seus projetos conceituais dos anos 1980 (Pao I e II) as estruturas de abrigo básicas para a sociedade financeira e individualista que emergia.
Sua obra-prima é a Midiateca de Sendai (1995-2001), um prisma regular de vidro (entre transparente, translúcido e opaco) estruturado por colunas que se abrem de forma arborescente em feixes oblíquos de tubos.
São, portanto, pilares explodidos e vazados, que ao invés de simplesmente apoiar as lajes parecem trepar entre elas, criando uma ordem independente e paralela ao geometrismo do invólucro.
Ironicamente, o problema de Toyo Ito foi ter tido uma seguidora tão poderosa quanto Sejima, criadora de uma "arquitetura diagrama" (na expressão do próprio Ito) que tão bem soube encarnar os paradoxos do mundo contemporâneo.
Na velocidade dos tempos atuais, a produção arquitetônica de Sejima engoliu a de Ito, tornando-a algo maneirista e antiga. Assim, apesar de justo, o Pritzker parece chegar em suas mãos já um tanto requentado.
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