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Crítica: Livro de Marcelo Mirisola e Furio Lonza retrata peripécias com picardia e realismo
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MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
ESPECIAL PARA A FOLHA
No livro "Teco, o Garoto que Não Fazia Aniversário", o brasileiro Marcelo Mirisola e o italiano Furio Lonza escrevem em conjunto uma ficção com descrições reais, no estilo documental de reportagens, por exemplo, de bairros e paisagens urbanas.
Não é uma literatura para crianças, mas sobre crianças em situação de risco no Brasil, crítica e satírica.
Entre a ironia e a picardia, o enredo enquadra as peripécias hiperrealistas de um garoto meio Oliver Twist (personagem de Charles Dickens), de nove anos, sequestrado por palhaços maus, no momento em que a família, de classe média, prepara sua festa de aniversário, comprada a crédito.
Os circenses Cachacinha e Alambique ensinam o garoto a beber e o encarceram numa jaula junto com o sagui Nico. Os dois fogem. Sem vínculos afetivos, o menino não pensa em voltar para casa.
Daniel Marenco/Folhapress | ||
Os escritores Marcelo Mirisola (esq.) e Furio, nos jardins do Palácio do Catete, no Rio |
Teco e o macaco que fala como gente passam a morar no Babelão, na região da Cracolândia, no centro de São Paulo. Integram uma gangue, convivem com drogas, mendicância, violência contra crianças, adolescentes e homossexuais.
O deboche é o procedimento construtivo da novela, escrita como um diário e ilustrada pelos cartuns humorísticos de André Berger.
Os autores escrevem em estilo coloquial, usam palavrões e expressões politicamente incorretas de forma calculada.
DECAÍDA E SEM VALORES
A representação da sociedade decaída e sem valores éticos em que Teco vive faz o leitor viajar a mundos paralelos, por romances e contos de Dostoiévski (1821-1881) como "O Crocodilo", que descreve a população que se aglomera para ver um homem que tinha sido engolido pelo animal e estava vivo, com parte do corpo para fora da boca do crocodilo.
O narrador dá à trama a sensação de verossimilhança. Ao mesmo tempo, o que se configura uma tragédia na vida real é motivo de uma sucessão de piadas, em ritmo ágil, com colagens cinematográficas.
Paródia do palhaço Piolin, Cachacinha vive numa quitinete imunda no largo do Paissandu, ponto de encontro tradicional dos circenses.
O protagonista esquece quem é e fica impossível não relacioná-lo ao estado de sonho em que James Barrie (1860-1937) coloca os meninos perdidos na Terra do Nunca.
A vida de Teco é bem diferente, e o leitor torce para que algo a solucione.
MÔNICA RODRIGUES DA COSTA é poeta, professora e jornalista especializada em infância e cultura.
TECO, O GAROTO QUE NÃO FAZIA ANIVERSÁRIO
AUTORES Marcelo Mirisola e Furio Lonza
ILUSTRAÇÃO André Berger
EDITORA Barcarolla
QUANTO R$ 34 (82 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo
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