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04/04/2013 - 03h35

Artista Francis Alÿs reúne mais de 400 cópias de imagem de santa em mostra

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DE SÃO PAULO

No começo dos anos 1990, Francis Alÿs encontrou dois quadros idênticos no mercado de pulgas de Bruxelas. Eram retratos de uma mulher de véu vermelho que, tempos depois, o artista belga descobriu se tratar de santa Fabíola, imagem copiada de uma tela do século 19 do pintor francês Jean-Jacques Henner.

Quando se mudou para a Cidade do México, onde vive até hoje, Alÿs viu também nos mercados dali essa mesma figura reproduzida à exaustão e passou a colecionar os quadros --um conjunto que hoje passa de 400 telas garimpadas em cerca de 40 países.

Num painel vertiginoso e um tanto obsessivo da repetição, Alÿs mostra agora na Pinacoteca do Estado todas as cópias que juntou de santa Fabíola, mesmo que muitos dos pintores que copiaram a tela nem saibam quem seja ou se é mesmo santa.

Divulgação
Uma das cópias de Santa Fabíola na mostra de Francis Alÿs
Uma das cópias de Santa Fabíola na mostra de Francis Alÿs

"Essa história ficou ainda mais interessante quando soube que o quadro original sumiu no século 19", conta Alÿs em entrevista à Folha. "É uma imagem que só sobreviveu graças às suas cópias."

Sobreviveu e se multiplicou. Mesmo que não pareça santa, por não seguir a iconografia cristã, a moça de véu vermelho virou espécie de talismã. Muitos dos amadores que copiavam esses traços acreditavam que o quadro servisse de proteção para a casa e, por isso, a imagem se espalhou pelo mundo todo.

"É uma imagem que viveu um processo de propagação, um fenômeno espontâneo", diz o artista. "Queria mostrar essa dimensão do quadro e como isso revela um circuito paralelo das artes visuais."

No caso, as centenas de cópias de santa Fabíola, uma imagem que nunca entrou para a história da arte oficial, está mais presente nesse "circuito paralelo" do que as grandes obras-primas.

"Queria mostrar o abismo que existe entre esses dois circuitos", diz Alÿs. "E quis ao mesmo tempo questionar a formação de um ícone, entender por que essa imagem sobreviveu por tanto tempo e o que torna algo um ícone."

Uma possível resposta é o fato de essa ser uma imagem fácil de copiar, com uma mancha vermelha dominante, fundo negro e quase nenhum traço mais complexo.

Mas permanece o mistério. Henner, o pintor da original, nunca atingiu a fama nem teve a atenção da crítica. Sua tela se perdeu da mesma forma que seu nome sumiu dos livros de história da arte. Ficaram só as cópias da santa, um fantasma que ninguém sabe como virou ícone. (SM)

FRANCIS ALYS
QUANDO abre quinta-feira (4), às 19h; de ter. a dom., das 10h às 18h; qui., das 10h às 22h; até 29/9
ONDE Pinacoteca (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/11/3324-1000)
QUANTO R$ 6

 

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