MG tenta salvar parte de herança musical; ouça trechos
Durante os séculos 18, 19 e 20 a área correspondente ao atual Estado de Minas Gerais passou por um período de efervescência cultural, também refletido na música, e agora um projeto tenta resgatar parte deste patrimônio para que não se perca completamente.
Com busca em 13 acervos localizados em três Estados --Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo--, o Patrimônio Arquivístico Musical Mineiro (Pamm) lançou ontem em Belo Horizonte três volumes com registros de composições dos séculos abordados.
Lúcia Sebe/Secom MG |
Paulo Castagna ressalta o trabalho do compositor Francisco Valle, que chegou a estudar na França em um período de sua vida |
"Em Minas, a arquitetura, a pintura, a escultura e a música estiveram em alta devido à riqueza vinda do ciclo do ouro, mas o turista que visita as cidades históricas raramente percebe a expressão musical, porque ela é menos visível", disse o pesquisador paulista Paulo Castagna, convidado pela Secretaria de Cultura de Minas Gerais para coordenar o projeto.
No período abordado pela pesquisa, Castagna conta que a música mineira era fiel ao que se produzia na Europa.
"As expressões negras e indígenas não eram consideradas pela elite, que passou a integrar elementos destas vertentes no movimento nacionalista no século 20. No século 18 era considerada música das altas classes a que se inspirava no padrão europeu, algo que acontecia muito rapidamente, com 15, 20 anos de diferença", disse Castagna.
Ouça trecho de execução de "Congratulamini" de Lobo de Mesquita:
Lúcia Sebe/Secom MG |
Volumes lançados pelo "Patrimônio Arquivístico Musical Mineiro"; projeto tenta reunir composições dos séculos 18, 19 e início do 20 |
Castagna conta que as pesquisas em arquivos de diferentes Estados ocorreu devido a peças que foram copiadas ou mesmo transladadas de Minas Gerais. Uma delas se encontrava no Rio de Janeiro, mas em um arquivo em posse da biblioteca da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo continha mais alguns exemplares importantes.
Iniciado em 2006, o projeto envolve ao todo três álbuns de partituras que trazem seis autores diferentes e e devem ser nove volumes. A coleção deverá vir acompanhada de um CD-Rom e será distribuída para escolas de música e bibliotecas, segundo informações do governo mineiro.
Um dos destaques do projeto é a presença de um compositor que realizou parte de seus estudos na França. "O que diferencia Francisco Valle dos demais autores que serão editados neste projeto é seu estilo romântico e seu importante trabalho com a música sinfônica", afirmou o pesquisador. Para reprodução na Folha Online, os organizadores do projeto também enviaram trecho de execução de "Valsa-Scherzo", de Valle, ouça:
"Ele ainda não havia sido foco de qualquer projeto porque não se conhecia o paradeiro da maior parte de sua produção, que acabamos por encontrar no poder de Alberto e Cyro Valle, em São Paulo. Por isso, nenhuma obra sinfônica do compositor havia sido impressa, apenas duas peças para piano foram publicadas até hoje", disse Castagna.
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