Nelson Leirner comemora 50 anos de carreira com retrospectiva em SP
Em 1967, Nelson Leirner mandou um porco empalhado para um salão de arte em Brasília, e o bicho foi aceito pelos críticos como uma obra.
Mais de 40 anos depois, o homem que se consagrou como iconoclasta da arte brasileira, com fama de apontar as bizarrices do meio em obras ácidas e irônicas, abre uma retrospectiva em São Paulo sem o malfadado animal.
Enquanto o porco viaja para Bruxelas, onde será destaque no festival Europalia, deixa na Galeria de Arte do Sesi sua ausência sintomática, ressaltando os trabalhos que o próprio Leirner considera mais palatáveis ao mercado.
"Minha obra continua crítica, mas a crítica não funciona mais", diz Leirner à Folha. "Ela foi engolida, a sociedade aprendeu a consumir o artista. Não tem como criticar sendo consumido. Todos nós viramos marca registrada."
No caso, ele sabe que será sempre tachado de "irreverente, irônico e bem humorado". "Mas ninguém pensa que posso estar deprimido, que também tomo remédios todos os dias para dormir."
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
Nelson Leirner na montagem de sua exposição na Galeria de Arte do Sesi, em São Paulo |
Apesar da derrota do Corinthians no dia anterior à entrevista, Leirner não parecia triste. Ele está consciente e não esconde essa lucidez.
"Tudo ficou pasteurizado, e eu tento alertar para isso no meu trabalho, como se dissesse: olhe, sinta", diz ele. "Só que nem eu mesmo sinto nada. Arte hoje é fabricada, tem que ter galeria, mercado e produzir, gerenciar, ser um pequeno industrial."
Em 1966, Leirner fundou com Wesley Duke Lee e Geraldo de Barros uma galeria alternativa, a Rex, que tentava expor a insensatez programada do mercado de arte. Teve prejuízo retumbante e acabou com um "happening" em que as obras foram doadas a quem passasse pelo espaço.
Agora, o artista conta que divide o que faz entre arte e hobby. Grande obra da mostra que abre na semana que vem, "Hobby" é um conjunto de 3.000 pequenos objetos fabricados por ele em momentos de tédio ou distração, noites vazias em quartos de hotel ou longos voos de avião.
É mais uma estocada no seio da arte, meio que ele mesmo aprendeu a moldar a seu favor nos últimos 50 anos.
No próximo dia 12, o Instituto Tomie Ohtake destaca essa experiência mostrando obras de Leirner ao lado de trabalhos de seus ex-alunos, como Leda Catunda, Iran do Espírito Santo e Dora Longo Bahia, todos hoje mais do que consagrados no mundinho.
NELSON LEIRNER
QUANDO abre 5/9, às 19h, no Sesi, e 12/9, às 20h, no Tomie Ohtake
ONDE Galeria de Arte do Sesi-SP (av. Paulista, 1.313, tel. 0/xx/11/ 3146-7405) e Instituto Tomie Ohtake (av. Brig. Faria Lima, 201, tel. 0/xx/11/2245-1900
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