Cartas revelam Graciliano Ramos gentil e satisfeito com a própria obra
Na correspondência agora compilada, Graciliano Ramos chega a ser generoso ao distribuir elogios, inclusive a novos escritores que ele tinha fama de afugentar.
Nova pesquisa traz à luz cartas que revelam um Graciliano Ramos gregário e cordial
Carta dá nova leitura a atritos de Graciliano Ramos em Moscou
Em carta de 1939, diz-se feliz por ter dado força aos estreantes José Carlos Borges e Oswaldo Alves.
Na correspondência passiva, o turrão se desmantela.
Em 1938, Erico Verissimo se surpreende: "Fiquei satisfeito por saber que você não desgostou dos Lírios ['Olhai os Lírios do Campo']. Curioso. Nunca pedi a ninguém para ler um livro meu. Mas quando nos encontramos aí em julho último eu ia lhe pedir para não ler o meu último romance. Tive a impressão de que no estado de espírito em que você se encontrava ele havia de irritá-lo".
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Outra característica que não se sustenta nas cartas é a autodepreciação de sua obra.
Em 1934, ele afirmou ao folclorista Aloísio Villela sobre "São Bernardo" : "É um romance que não me descontenta; creio que está apresentável".Uma modéstia que ele perderia em 1952, quando anunciou "Viagem" para o editor José Olympio: "Arranjo notas para um livro que será notável".
A fama de autocrítico deve-se principalmente à revolta contra "Caetés", que chamou de "porcaria", "desgraça" e "coisa pavorosa".
Na biografia "O Velho Graça", o jornalista Dênis de Moraes conta que, na década de 1930, ele pediu de volta os originais ao editor Augusto Frederico Schmidt, e havia desistido de publicar o livro, mas foi convencido do contrário pela mulher, Heloísa, e pelo amigo Jorge Amado.
As cartas mostram uma história diferente. Em 1933, diante da demora do editor, ele tentou publicar o livro em duas outras casas, Adersen Editores e Companhia Editora Nacional, mas "Caetés" saiu de fato pela Schmidt Editora.
Em algumas cartas o escritor é mesmo ferino nas críticas. Mas nunca como um individualista cerrado, e sim, como definiu o escritor Antonio Callado, um sujeito "sem muita paciência com os chatos e os burros". (MARCELO BORTOLOTI)
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