Escritor Geoff Dyer, que vem para a Flip, disseca jazz em livro
"Quem são esses caras?", reagiu o editor quando Geoff Dyer, 55, apresentou o livro "But Beautiful", em 1991.
Os "caras" eram Lester Young, Charles Mingus e outras figuras lendárias do jazz.
Gênero 'intranquilo', ensaio ganha viés mais pessoal
Crítica: Entre ficção e realidade, autor Geoff Dyer mergulha no imaginário do jazz
Mais de 20 anos depois, falando por telefone, de sua casa em Londres, Dyer ainda não perdoa o editor: "Por mim, ele já estaria apodrecendo no inferno".
Adriano Vizoni/Folhapress | ||
O escritor Geoff Dyer durante visita a São Paulo, em 2010 |
Justiça feita, David Godwin, hoje um agente literário, errou feio. O livro, agora lançado no Brasil com o título "Todo Aquele Jazz", foi muito elogiado pela crítica e acabou tornando Dyer conhecido como um dos expoentes do novo ensaísmo.
Permeado de digressões, insights originais e relatos pessoais, seu estilo é assumidamente autoindulgente.
Um de seus livros mais curiosos, "Out of Sheer Rage" (inédito no Brasil), por exemplo, é um estudo sobre o escritor D.H. Lawrence que na verdade narra a tentativa de escrever um estudo sobre D.H. Lawrence. O ator Steve Martin declarou ser o livro mais engraçado que leu na vida.
"Todo Aquele Jazz", um exercício do que chama de "crítica imaginativa", é mais reverente, mas não menos surpreendente.
Escrito num ritmo variável, com alguns "solos" e "mudanças de andamento", lembra mesmo o improviso jazzístico. "Sempre busquei aproximar a forma do conteúdo", explica.
E acrescenta, com seu humor elegante: "Se bem que, neste caso, não tive muita escolha, já que tenho pouco conhecimento de música".
Para ele, essa não especialização "dá mais liberdade, torna o livro mais envolvente e dramaticamente mais interessante". Foi com esse livro, afinal, que ele iniciou o que chama de sua vida de "penetra literário", ou seja, "alguém que se mete num assunto que não conhece muito bem".
Seu método é sensorial. Para escrever "Todo Aquele Jazz", mudou-se para Nova York e ficou dias vagando pela cidade com um walkman na cabeça, ouvindo os músicos que pretendia retratar.
Também costuma adotar o princípio da sinestesia. Diz que,"para ouvir Thelonious Monk, é preciso vê-lo tocando", e por isso apoiou-se muito em fotos e documentários.
No entanto, há tempos acha que o jazz morreu. "As coisas mais interessantes que têm surgido guardam aspectos do jazz, mas vêm misturadas com outros gêneros."
Cita entre seus preferidos a banda australiana The Necks e o norueguês Nils Petter Molvaer.
LIBERDADE FORMAL
Em julho, Dyer estará em Paraty (RJ) com a mulher para participar da Flip. No dia 7, às 17h, ele vai falar sobre a arte do ensaio. A seu lado estará o ensaísta americano John Jeremiah Sullivan.
"Tenho gostado mais de ler livros como os de Jeremiah do que a maioria dos novos romances", adianta.
Ele considera que há de fato um movimento novo no ensaio, do qual talvez ele tenha sido um dos pioneiros (Dyer está longe de ser o tipo que se gaba). Elogia David Shields e jovens como o próprio Sullivan, Ben Lerner e Tom Bissell.
Todos aparecem, invariavelmente, como personagens nos próprios livros. São "batedores", como se autodefine Dyer. "Há muito mais liberdade temática e formal nos melhores ensaios feitos hoje."
Mais, inclusive, avalia ele, do que no chamado "new journalism" (novo jornalismo), ou jornalismo literário. "Gay Talese e outros também escreviam na primeira pessoa, mas, no fundo, faziam reportagem convencional."
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RAIO-X
GEOFF DYER
VIDA
Nasce em 1958, na Inglaterra. Jornalista e escritor, é um dos principais ensaístas da atualidade
LIVROS NO BRASIL
"O Instante Contínuo", "Ioga Para Quem Não Está Nem Aí", "Todo Aquele Jazz" (todos pela Companhia das Letras); "Jeff em Veneza, Morte em Varanasi" (pela Intrínseca)
Livraria da Folha
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