Netflix "banaliza a narrativa", afirma HBO
A HBO exige dos envolvidos com suas produções originais --como "Psi", que está sendo gravada em São Paulo, com participação de 240 atores e uso de 92 locações-- a assinatura de um contrato de confidencialidade.
Os profissionais assumem o compromisso de não revelar informações sobre a série. "Somos ciumentos das nossas histórias", diz Roberto Rios, vice-presidente de produções originais da HBO na América Latina.
Série "Psi", escrita por Contardo Calligaris, mostra psicanalista fora do consultório
O esforço do canal é evitar que o 'vazamento' antecipado de detalhes de suas tramas estrague o prazer do espectador, ao eliminar o elemento surpresa e, por extensão, a chance de fazer de episódios aguardados um "evento" que reforça a marca da empresa.
Fabio Braga/Folhapress | ||
Contardo Calligaris (esq.) e o ator Emílio de Mello, durante entrevista no consultório do psicanalista, em SP |
O acerto (e o futuro) dessa estratégia industrial está posto em xeque desde que a Netflix decidiu lançar os 13 episódios de sua megaprodução original "House of Cards" simultaneamente.
No trimestre em que "House of Cards" foi lançado, a Netflix ganhou 2 milhões de novos assinantes nos EUA, segundo o "Hollywood Reporter". Uma paródia da série foi usada pela Casa Branca para abrir o jantar que o presidente Barack Obama ofereceu aos correspondentes estrangeiros em abril.
Rios, contudo, é cético sobre o modelo adotado pela Netflix e quanto à perspectiva de o hábito de assistir a múltiplos episódios tornar-se uma tendência dominante.
"É mais complicado do que estão querendo fazer parecer. É preciso lembrar que o tempo existe para que tudo não aconteça junto. Você precisa de tempo para absorver as coisas", diz ele, argumentando que é antinatural eliminar a etapa da espera no lazer.
"Você passa a vida esperando. Espera pelo primeiro beijo, pela primeira vez em que faz sexo, pelas férias. Espera até pelas coisas ruins, como a morte dos pais", diz.
Ele afirma que, ao disponibilizar de uma só vez o conteúdo integral das séries, a Netflix "banaliza a narrativa". Ele questiona o fato de o modelo da concorrente na internet eliminar a espera, mas não a divisão em episódios.
"Se acreditam que o episódio é modelo falido, o desafio é: faça uma série com 240 minutos e um clímax a cada minuto. O espectador pode parar quando quiser." (SA)
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