"Protestos no Brasil são sinais de democracia saudável", diz Geoff Dyer
Diferentemente dos protestos antiditatoriais da Primavera Árabe, que clamavam por uma democracia inexistente, as manifestações nas ruas do Brasil "são sinais de uma democracia saudável", segundo o ensaísta inglês Geoff Dyer, 55.
"Vocês viveram sem democracia aqui por um período muito longo, e isso é uma expressão autêntica de um sentimento democrático", disse o inglês, durante entrevista coletiva na tarde deste sábado (5), em Paraty (RJ).
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Convidado da Flip, onde participa de uma mesa amanhã à tarde, Dyer falou ainda sobre o protesto que acontece em Paraty neste sábado, e que abarca diferentes bandeiras, como tem sido praxe nas demais manifestações.
"Quanto aos protestos contra a Flip, não me sinto qualificado para falar. Pelo que entendi, as reclamações são contra o dinheiro gasto para trazer pessoas como eu até aqui e o alto preço dos ingressos, é isso? Não conheço o cálculo econômico por trás deles, então não posso comentar."
Adriano Vizoni/Folhapress | ||
O escritor Geoff Dyer durante visita a São Paulo, em 2010 |
Informado de que os protestos de hoje em Paraty incluem ainda outros grupos e demandas, como barqueiros que reclamam da concorrência predatória das grandes escunas e moradores locais que lutam por suas terras, Dyer disse que, de modo geral, é um "fã de protestos". "Já participei de muitos e não acho que o direito de manifestação deva ser restringido."
ENSAÍSMO
Autor de "Todo Aquele Jazz", recém-lançado no Brasil, Dyer é frequentemente citado como um dos expoentes do chamado novo ensaísmo, que se distingue pelo uso da primeira pessoa, com impressões subjetivas e elementos autobiográficos. O escritor já abordou temas como a fotografia ("O Instante Contínuo"), a ioga ("Ioga para Quem Não Está Nem Aí") e o autor D.H. Lawrence ("Out of Sheer Rage", inédito no Brasil).
"Eu tive uma educação literária. Todos os meus livros são parte do meu projeto de auto-educação, escrevo sobre coisas que gostaria de aprender", disse Dyer, que adota um método bem imersivo quando está se criando suas obras. "Preciso experimentar muita coisa antes de conseguir escrever algumas poucas páginas."
Questionado sobre que temas ainda gostaria de estudar e transformar em livro, o inglês disse que "adoraria fazer um livro sobre música clássica", mas se declarou "incapaz de escrever sobre música atualmente".
"'Todo Aquele Jazz' é um livro tão confiante, é obra de um jovem, eu tinha 30 quando o escrevi. E, de um modo estranho, quando você é jovem, tem muito mais confiança. Não acho que conseguiria escrevê-lo hoje. Há um lirismo ali que eu acho que se esgotou na minha escrita."
Outro dilema, segundo Dyer, é que, diferentemente da época em que escreveu sua obra sobre o jazz, no início dos anos 1990, atualmente a internet mudou a maneira como de pesquisar e aprender a respeito de um tema. "Não acho que poderia escrever este livro hoje, porque toda minha curiosidade seria satisfeita só de olhar o YouTube, onde há entrevistas fantásticas com esses músicos, gravações, arquivos."
Dyer participa da última mesa de debates da Flip, "A Arte do Ensaio", às 17h do domingo. Com ele estará outro célebre ensaísta, o norte-americano John Jeremiah Sullivan, 39. O mediador é Paulo Roberto Pires, editor da ªSerroteº, a principal revista brasileira do gênero.
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