Filme de Cacá Diegues explora decepção olímpica no hipismo
"Antes de chegar ao [salto] duplo fatal, ele sentiu no fundo dele o que havia passado 15 segundos antes e falou: 'Não tenho coragem para passar por isso de novo.'"
Quinze segundos antes, ele havia tocado a primeira barreira da pista, derrotado por um obstáculo que costumava ultrapassar sem esforço.
Ele é Baloubet du Rouet, 24, o cavalo-atleta que refugou na prova final de hipismo da Olimpíada de Sydney (2000). Quem descreve o que houve com Baloubet na "hora H" é seu cavaleiro naquela prova, em que ambos perderam uma medalha de ouro quase certa, Rodrigo Pessoa.
A "história de um homem e seu cavalo" é contada por Pessoa e por outros personagens que fizeram parte dela em "No Meio do Caminho Tinha um Obstáculo", que estreia hoje no canal ESPN.
O média-metragem (26 minutos), que tem direção geral de Cacá Diegues e direção de sua filha Flora Diegues e de sua mulher, Renata Almeida Magalhães, inaugura a segunda edição do projeto "Memória do Esporte Olímpico".
Com R$ 2,2 milhões de recursos do canal e da Petrobras aplicados via benefício fiscal, foram feitos nove médias, selecionados por concurso, e um longa, da diretora convidada Laís Bodanzky.
A cada domingo, até dia 13 de outubro, um deles estreará na grade do ESPN Brasil.
Ao comentar por que decidiu abordar uma derrota, Cacá diz: "Gosto de filmes sobre esportistas fracassados, são histórias mais humanas que as dos campeões".
No caso de Pessoa, como observa o cineasta, "a história ainda tinha uma redenção extraordinária. Na Olimpíada seguinte [Atenas, em 2004], com a desclassificação por doping do vencedor [Cian O'Connor], Pessoa e Baloubet [que ficaram em 2º] acabaram ganhando o ouro".
Ormuzd Alves/Folhapress | ||
Pessoa e Baloubet, na prova olímpica em que o cavalo refuga |
DESTINO
Ao comentar esse desfecho no filme, o cavaleiro diz que "estava destinado. O cavalo merecia". Pessoa foi ouvido para o documentário em Bruxelas (Bélgica), onde vive. A rotina atual de Baloubet em Sintra (Portugal) também é mostrada no filme.
A reação brasileira à recusa de Baloubet em saltar é citada pela atriz e colunista da Folha Fernanda Torres, entrevistada pelos diretores. Ela diz que o episódio soou como "uma confirmação funesta da incapacidade brasileira de ganhar. Nem o cavalo!".
Cacá afirma ter se impressionado "muitíssimo com o afeto e a solidariedade de Pessoa, referindo-se a Baloubet como se eles fossem dois seres ligados por um laço de amor". No filme, o cavaleiro frisa que "o cavalo é um ser vivo que tem os seus momentos, os seus altos e baixos".
"No Meio do Caminho Tinha um Obstáculo" tem trechos com imagens de animação e um texto didático e irônico sobre a história do hipismo que se assemelha ao premiado curta "Ilha das Flores" (1989), de Jorge Furtado.
O recurso, afirma Cacá, "é um reconhecimento da originalidade e do princípio de animação que Jorge e seu filme inauguraram e que merece ser seguido."
Nesta semana, o ESPN lança a terceira edição do projeto sobre a memória do esporte olímpico. Nove projetos receberão R$ 230 mil cada um.
NO MEIO DO CAMINHO TINHA UM OBSTÁCULO...
Estreia do filme
QUANDO hoje, às 21h30, no ESPN
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