Crítica: Série 'Newsroom' fecha temporada mais realista
Aaron Sorkin, o produtor que se consagrou com "The West Wing", não anda de bom humor com o jornalismo e tem feito questão de deixar isso claro tanto em entrevistas como em sua série atualmente no ar, "The Newsroom", da HBO.
Esse dissabor, surpreendentemente, acabou por fazer bem à segunda (e talvez última) temporada da série sobre uma quixotesca equipe de um telejornal a cabo americano, cuja primeira metade do episódio final --duplo-- vai ao ar hoje nos EUA e amanhã no Brasil.
Produtores e público também devem festejar a coincidência de, apesar de a temporada cobrir de meados de 2011 até o fim do ano passado, a série ter ganho atualidade ao enfocar armas químicas e os limites para operações militares americanas exatamente quando os EUA e o mundo decidem como agir em relação ao conflito civil na Síria.
Para os brasileiros agora diante dos protestos de rua, é também interessante acompanhar ou relembrar como foi o nascimento do movimento Ocupe Wall Street nos EUA.
Se a temporada de estreia optou por episódios mais fechados em um evento específico e foi marcada por um idealismo puro e pouco verossímil dos personagens, pontuado por diálogos e monólogos tão longos quanto antinaturais, a produção deu lugar neste ano a um debate mais saudável e fluido sobre prioridades e erros em um meio em renovação à velocidade máxima.
É verdade que Will McAvoy, o âncora conservador e mal-humorado interpretado de forma genial por Jeff Daniels, continua a ser um biltre (e sim, é preciso um adjetivo antiquado para descrever o personagem). Mas ao menos ele não parece mais um paladino da fantasia de Sorkin, e sim alguém simplesmente cansado de nadar contra a corrente.
Divulgação | ||
Jeff Daniels em cena como o carismático âncora Will McAvoy |
Sua produtora MacKenzie McHale (a adorável atriz britânica Emily Mortimer) continua a ditar regras toda vez que respira, mas se tornou mais humana e falível.
A dupla Sam Waterston e Jane Fonda, como o diretor de jornalismo e a dona do canal ACN, ainda vale cada segundo no ar. E a sarcástica repórter de economia Sloan (Olivia Munn) ganhou muito mais tempo no ar do que a enjoativa (e agora atormentada) Maggie (Alison Pill), o que diz muito.
Para quem tem curiosidade sobre como funcionam as Redações noticiosas, esta temporada faz um retrato mais próximo da realidade do que a anterior, ao tratar também de obstáculos, incertezas e às vezes até do despreparo que surgem durante a apuração de uma reportagem.
Em um dos momentos mais divertidos, expõe o penoso processo de cobertura das eleições americanas, fenômeno único no mundo, e como ele mudou a ponto de alguns veículos terem se tornado reféns de candidatos e da mensagem (ou do ônibus?) das campanhas.
A HBO anunciou na última quinta-feira que ainda não decidiu se vai ou não produzir uma terceira temporada, embora o protagonista Daniels tenha tuitado que sim. Coincidentemente, até o episódio desta noite e o derradeiro, semana que vem, tampouco sabemos qual o destino da trupe jornalística de Sorkin.
Seria uma pena se despedir já.
"The Newsroom" vai ao ar às segundas, 22h, pela HBO, com reprises durante a semana
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