Coreografias afro-brasileiras buscam seu espaço na cena de dança contemporânea
O Brasil é o país com maior população de origem africana fora da África, continente famoso pela riqueza de suas danças e músicas.
Os elementos são ideais para alimentar uma criação artística de peso, mas a coreografia afro-brasileira ainda tem um lugar periférico na cena de dança contemporânea do país.
Leonardo Soares/Folhapress | ||
Bailarinos apresentam a coreografia 'Azougue', de Rui Moreira, no teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo |
"Tem grupos na universidade e coletivos de coreógrafos pesquisando e criando, mas você não vê a produção no circuito oficial da dança', diz a coreógrafa e bailarina Franciane de Paula.
Integrante da companhia de dança e teatro Nave Gris,de São Paulo, ela adotou o nome artístico de Kanzelumuka, que ganhou quando foi iniciada no candomblé.
O nome pode sugerir algo "exótico", mas Kanzelumuka foge de uma folclorização da dança afro-brasileira.
"O que fazemos é pensar no corpo e no movimento a partir das referências africanas, sem reproduzir literalmente as coreografias, sem ser balé folclórico", afirma a coreógrafa.
Na terça-feira (3), Kanzelumuka apresenta sua criação "Dikanga Calunga" (mar distante), na Galeria Olido, em São Paulo.
O espetáculo trata das questões da diáspora de africanos para o Brasil e das pequenas viagens pessoais, usando como referência as mitologias dos povos de origem banto e os arquétipos femininos do candomblé.
DANÇA NEGRA
A dança negra contemporânea pesquisa o gestual de culturas ancestrais para traduzi-los por meio das técnicas atuais, que além de serem a base do trabalho corporal dos bailarinos, fazem parte do repertório do público.
"A dança contemporânea está interessada no ser humano, que está interessado em saber de onde vem e quem é. A dança afro-brasileira trata justamente disso, porque uma de suas questões centrais é a da identidade", diz Rui Moreira, coreógrafo paulista radicado em Belo Horizonte.
Uma das traduções dessas ideias para o palco poderá ser vista a partir de quinta (5), em São Paulo, na apresentação do Ateliê de Coreógrafos Brasileiros da SPCD (São Paulo Companhia de Dança).
Entre outras coreografias, será apresentada "Azougue", de Moreira. A obra usa referências do maracatu rural (manifestação folclórica de influência africana) e do trabalho que Moreira começou a desenvolver em 2007 com uma escola de dança do Senegal.
"Usei o gestual africano para um confronto com os corpos treinados em técnicas acadêmicas", conta Moreira, referindo-se ao trabalho feito para os bailarinos da SPCD.
Outra obra que será apresentada no espetáculo do ateliê de coreógrafos também aponta as influências africanas na dança, na música e nas artes brasileiras.
"Vadiando", da coreógrafa baiana Ana Vitória Freire, mistura elementos da capoeira, de dança contemporânea e do filme "Vadiação", de 1954.
Ana Vitória diz ter trabalhado pensando na educação do corpo e na elegância trazidas pela capoeira.
"Nesse sentido, tem a ver com dança afro-brasileira, com esse corpo que é 'naturalmente' desconstruído: a bacia desencaixada, a coluna fluida, em contraposição à coluna retificada e a bacia fixa do corpo do bailarino acadêmico de influência europeia", diz a coreógrafa.
DIKANGA CALUNGA
QUANDO 3/12, às 20h
ONDE Galeria Olido ( av. São João, 473, Centro, São Paulo; tel. 0/xx/11/3331-8399)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre
ATELIÊ DE COREÓGRAFOS BRASILEIROS
Azougue, Vadiando e outras coreografias
QUANDO de 5/12 a 8/12; quinta e sábado, às 21h; sexta, às 21h30; domingo, às 18h
ONDE Teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, São Paulo; tel.: 0/xx/11/3288-0136
QUANTO R$ 12,5 e R$ 25
CLASSIFICAÇÃO livre
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