'Não existe a metade da laranja', diz diretora do curta argentino sobre mulheres solteiras
Na tarde do casamento de sua última amiga da escola até então solteira como ela, a argentina Paula Schargorodsky, 35, decidiu tirar uma soneca antes de sair para a festa. Quando acordou, já passava das 4h da manhã.
Com a cabeça a mil, ligou mais uma vez sua câmera e registrou algumas cenas após esse despertar: o relógio do celular mostrando a hora, os sapatos que havia experimentado para a festa jogados no chão.
"Claro que havia algo que eu não queria encarar", diz a cineasta na narração que acompanha essas imagens.
Divulgação | ||
A diretora Paula Schargorodsky, em cena do curta '35 and Single' |
Surgiu assim a ideia de fazer o filme "Garota Atrás da Câmera" sobre os dilemas que as mulheres acima dos 30 vivem ao decidirem não se casar e não ter filhos. "A liberdade feminina tem uma data de validade: quando você completa 30 anos", diz a diretora no longa.
Alguns fragmentos desse filme se transformaram no curta "35 and Single" (35 e Solteira), criado especialmente para a página de documentários de opinião do jornal "New York Times". Em uma semana no ar, o vídeo já teve mais de 735 mil visualizações no YouTube.
"Quando acordei naquela noite, comecei a pensar na vida. Porque eu estava feliz comigo. Adoro o que faço, a minha liberdade, mas havia uma preocupação", diz ela à Folha, em um bar próximo a sua casa, no bairro de Belgrano, em Buenos Aires.
E decidiu que escreveria um filme sobre o assunto. "Vi que era uma história minha, mas que também era universal. É algo sobre a minha geração, sobre as mulheres que ainda não decidiram o que fazer de suas vidas, mas que sabem que essa atitude traz prós e contras."
No longa, coprodução argentina, espanhola e americana que deve estrear na metade de 2014, Paula entrevistou seus familiares, amigos e ex-namorados para tentar entender por que seguiu um caminho diferente do de suas amigas.
Para ilustrar a história, reuniu imagens caseiras que fez ao longo de dez anos de casamentos, amigas grávidas exibindo suas barrigas e cenas de seus antigos romances.
Ao rever mentalmente e visualmente o filme da sua vida, ela diz que entendeu que estava procurando a felicidade, o par ideal, olhando muito para fora, exigindo demais. "Descobri que não existe a metade da laranja, que já estamos completos. Não há que buscar nada fora", diz ela, que continua com 35 anos, mas não mais solteira.
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