Com desfile a mostra, Itaú Cultural faz grande retrospectiva da estilista mineira Zuzu Angel
A estilista Zuzu Angel, figura principal da luta pela busca dos desaparecidos durante a ditadura militar (1964-1985), será tema de uma grande retrospectiva em abril de 2014, 50 anos após o golpe.
Entre roupas e estampas criadas por ela estará também, na mostra organizada pelo Itaú Cultural, a carta que escreveu em 1976 ao então secretário-geral de Estado dos EUA, Henry Kissinger.
Grife Zuzu Angel será relançada em 2014
Zô Guimaraes/Folhapress | ||
Foto sem data de Zuzu (1921-1976) em Paris antes da fama |
"Quando escrevo esta carta, é um momento muito doloroso e importante para mim, porque tenho certeza, você entenderá o sofrimento de uma mãe", diz um trecho.
Dois meses depois de furar o esquema de segurança e entregar a carta nas mãos do destinatário, que estava em visita ao Brasil, Zuleika Angel Jones morreria, aos 54 anos, em um acidente suspeito.
A estilista se arriscou na esperança de receber ajuda internacional para conseguir notícias sobre seu único filho homem, Stuart Angel Jones.
Como militante da organização de esquerda MR-8, Stuart foi preso em 1971, no Rio. Tornou-se o primeiro desaparecido político do Brasil.
A trajetória e a tragédia da mulher que inspirou a música "Angélica", de Chico Buarque (Quem é essa mulher/Que canta sempre esse estribilho/Só queria embalar meu filho/Que mora na escuridão do mar), serão montadas em dois andares do Itaú Cultural.
Neste mês, um ex-soldado da Aeronáutica, em depoimento à Comissão da Verdade, disse ter visto o corpo de Stuart ser arrastado com a boca presa no cano de um jipe. Em setembro, o nome de seu torturador foi revelado.
LUTO E MODA
Na abertura da exposição, em 1º de abril, um desfile lembrará o cinquentenário do golpe e celebrará Zuzu.
Réplicas de vestidos criados por essa estilista mineira serão desfilados e trechos de cartas que escreveu na batalha para saber de Stuart serão encenados, segundo adiantou a curadoria.
"A morte do filho potencializou a veia criativa de Zuzu, que vestia-se de preto em sinal de luto, mas costurava roupas estampadas carregadas de referências à sua dor", diz Valéria Toloi, uma das curadoras da exposição.
Para além da política, a Zuzu que emerge do material reunido tem uma faceta pouco conhecida: a de uma empresária de moda sagaz.
Divulgação/CBA | ||
Stuart, filho de Zuzu Angel |
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