Liderança em downloads ilegais 'é melhor que Emmy' para Time Warner
Aos poucos, Hollywood aprende a parar de se preocupar e a amar a pirataria.
Questionado sobre downloads ilegais ao anunciar o balanço da empresa há seis meses, o presidente da Time Warner, Jeff Bewkes, disse que "Game of Thrones", pelo jeito, "é a série mais pirateada do mundo". "E isso é melhor que um Emmy."
Para a maior corporação de mídia do mundo, com subsidiárias como a HBO, a pirataria "é um tremendo boca a boca" e serve de porta de entrada para futuros clientes, dispostos a pagar.
Terminou o ano e, de fato, a Time Warner acaba de ganhar seu prêmio "melhor que um Emmy". Pelo levantamento do site holandês TorrentFreak, referência mundial em downloads ilegais, "Game of Thrones" foi a série mais pirateada de 2013.
O site cobre pirataria, mas não faz. Em entrevista, seu fundador e editor, de pseudônimo Ernesto van der Sar, afirma que "uma das principais razões para as pessoas piratearem é não haver alternativas legais à disposição".
Dá como exemplo o que acontece com "muitos novos filmes e séries de TV dos Estados Unidos", inclusive por aqui: "É frequente o caso no Brasil, devido aos atrasos nos lançamentos".
Além dos atrasos, cita "outras barreiras, como o preço, que tende a pesar mais nos países em desenvolvimento" —como Brasil e China, que a associação dos estúdios americanos (MPAA, na sigla em inglês) considera "mercados notórios" de pirataria.
Jeff Bewkes não ficou no discurso. Na segunda, a HBO liberou os primeiros episódios da nova temporada de "Girls" no YouTube 12 horas após a exibição na TV nos EUA.
E a Time Warner não está sozinha. Duas semanas atrás, a BBC liberou o acesso on-line ao primeiro episódio da nova temporada de "Sherlock", via Youku Tudou, o YouTube chinês, duas horas após ir ao ar no Reino Unido.
Confirmando que a indústria começa a lidar com a questão de forma mais complexa, o Netflix afirmou, ao lançar seu serviço on-line na Holanda, que usa downloads ilegais como parâmetro.
"Na compra de uma série, miramos o que tem bom desempenho nos sites piratas", declarou a vice-presidente mundial de compra de conteúdo do Netflix, Kelly Merryman, ao site holandês Tweakers, citando "Prison Break" como exemplo.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
HÁBITO
Se parte de Hollywood já vê utilidade na pirataria, não faltam alertas do contrário.
Para cada Vince Gilligan, produtor de "Breaking Bad" que diz que os downloads ilegais "ajudaram" a popularizar a série, há uma Gale Hurd, de "The Walking Dead", que chama as evidências de efeito positivo de "piada".
"Colegas meus têm uma crença equivocada de que pirataria é bom e quem vê desenvolve o hábito de pagar", disse Hurd há um mês, em evento antipirataria, acrescentando que "cria um hábito sim": não pagar nunca.
Ernesto, do TorrentFreak, diz que a crença "tem sua razão: nem sempre é fácil para o pirata abandonar o hábito, mesmo com alternativas legais gratuitas". Cita a estreia de "The Walking Dead" neste ano: mesmo liberada por "streaming" pelo AMC, foi alvo de "download em massa".
A Fox, de séries como a recém-premiada "Brooklyn Nine-Nine", vai além.
"Não podemos justificar a pirataria para ganhar audiência", diz Daniel Steimetz, "oficial-chefe antipirataria" da Fox International Channels. "Pelo contrário, temos de criar consciência na sociedade, fazendo-a entender que é um ato desprezível, punido pela lei, que afeta toda a indústria." A Fox, relata Steimetz, está "à frente da luta contra a pirataria na última década, tendo sido a primeira da América Latina a criar alianças estratégicas".
Duas semanas atrás, por outro lado, a mesma Fox veiculou nos EUA um episódio de "Os Simpsons" em que Homer, diante da dificuldade em assistir a um filme do qual todos falam, aprende com Bart como fazer download no site fictício The Bootleg Bay.
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