Portugal deve abandonar 'submissão mansa', diz ensaísta Eduardo Lourenço
Considerado o maior ensaísta português vivo, o escritor Eduardo Lourenço, 90, trouxe caráter político ao seu discurso na 15ª edição do evento literário Correntes d'Escritas, realizado na cidade de Póvoa de Varzim, em Portugal, e encerrado no último sábado (22).
Segundo Lourenço, Portugal não pode continuar numa "submissão mansa". "Estamos cercados e imersos na cultura ocidental, que atravessa a maior crise que conhecemos até hoje. Estamos vivendo como uma civilização planetária, num momento de mudança de paradigma. E a cada dez anos é como se mudássemos de cultura, de planeta. Ainda não temos resposta porque essa resposta só pode vir do futuro, da resposta que dermos à crise", afirma.
Alfredo Cunha/Divulgação | ||
O ensaísta português Eduardo Lourenço |
Embora a crise não fosse o tema oficial do festival literário, o assunto foi recorrente nas mesas de discussão por muitos dos participantes do evento, entre eles autores, intelectuais e alguns dos principais editores portugueses.
A sessão de abertura foi marcada pelo anúncio do vencedor do prêmio literário Casino de Póvoa, dado ao escritor Manuel Jorge Marmelo, 43, pela obra "Uma Mentira Mil Vezes Repetida" (Quetzal). O autor, que recebeu o prêmio no valor de 20 mil euros (cerca de R$ 64.384,12) na cerimônia de encerramento do evento, diz que "este prêmio vem no momento mais difícil da minha vida. Como tantos portugueses, estou desempregado".
Entre os finalistas da premiação estava o autor brasileiro Michel Laub, com o livro "O Diário da Queda" (Companhia das Letras), lançado em Portugal pela editora Tinta da China em 2013.
O escritor e colunista da Folha participou como um dos 15 nomes inéditos convidados pela edição de aniversário do festival, e debateu sobre questões autobiográficas que permeiam sua obra. Na mesa "A ficção nos livros é corrente de verdade", ao lado de nomes como António Mota e João Ricardo Pedro, o autor defendeu que a "verdade é sempre uma forma de expressão ficcional" e que considera as correntes, tema principal do evento, como "algo imprevisível ao longo do tempo", como "fluxos marítimos".
Entre as discussões propostas sobre o significado da palavra "correntes", autores como o vencedor do Prêmio José Saramago de 2013, o angolano Ondjaki, Valter Hugo Mãe, Inês Pedrosa e o poeta e romancista Hélder Macedo, participaram do debate. Além de abordar o tema principal, Macedo falou sobre as posturas tomadas pelo governo português perante a crise. "Estamos sendo diariamente ofendidos neste país e estamos bem comportados demais. Temos a obrigação de sermos malcriados. Vamos celebrar o grande e universal manguito". Manguito, numa tradução livre para o português do Brasil, significa o dedo médio em riste.
Divulgação | ||
Michel Laub na 15ª edição do Correntes d'Escritas, em Portugal |
Esta edição do festival Correntes d'Escritas aconteceu dos dias 20 a 22 de fevereiro e, além das mesas de discussão, contou com uma programação paralela com palestras em escolas locais, exposição de fotografias e serigrafias.
Na segunda-feira, 24, uma extensão do evento acontece em Lisboa no Instituto Cervantes, e contará com a presença de Michel Laub, Filipa Leal e o poeta espanhol Antonio Gamoneda.
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