Crítica: Musicais envolvem com bons instrumentistas e atores cantores
"Pour Elise", com seu humor leve sobre temas pesados, remete imediatamente à dramaturgia já conhecida de Flavio de Souza, de "Fica Comigo esta Noite", hoje menos presente no teatro paulistano.
No caso, perto da morte, o pianista Sbig relembra o amor de sua vida. Começa na Polônia, às vésperas da Segunda Guerra e no princípio da perseguição nazista aos judeus, e avança para o Brasil e a morte da amada.
Com canções derivadas de clássicos eruditos e letras que remetem à narrativa vaga de um amor por Elise, é quase uma brincadeira. Mas bem executada pelos instrumentistas em cena e pelo elenco.
Lenise Pinheiro - 10.jul.2014/Folhapress | ||
Lui Strassburger e Gabriela Alves Toulier, no musical em 'Pour Elise' |
O protagonista se divide em dois: um velho narrador feito com humor e desenvoltura por Lui Strassburger e um jovem vivido pelo múltiplo Claudio Goldman, que não só canta, mas toca piano, clarinete, flauta e responde pelas canções ao lado de Souza.
A peça corre em torno da inspiração amorosa de Elise, representada com ironia e sensualidade e cantada com inusitada proficiência lírica por Gabriela Alves Toulier.
Em vez do realismo corrente nos musicais no Brasil, Souza ergue uma trama que é como um sonho, com personagens que se dissolvem em referências como o filme "Casablanca", permitindo que as canções embalem a peça, não sua história.
O resultado é envolvente e explica a plateia lotada numa quarta-feira. Mas tem os seus problemas, como a cenografia quase improvisada, com telão ao fundo cobrindo o cenário de outra peça e servindo para algumas projeções ilustrativas.
APURO
"Miranda por Miranda", outro musical para teatros de tamanho médio, com instrumentistas no palco e focado na destreza vocal dos atores, contrasta pela produção mais apurada, que se reflete nos vídeos também projetados em telão.
Reúne profissionais estabelecidos do gênero, como o diretor musical Tim Rescala e sobretudo a protagonista Stella Miranda, de espetáculos como a lendária "Ópera do Malandro" de 1979 e "A Madrinha Embriagada", que saiu de cartaz em junho.
Além das belas projeções dos "cenários virtuais" de Samir Abujamra, a qualidade da produção se reflete na cenografia simples de uma plataforma para a estrela do rádio e de Hollywood Carmen Miranda, idealizada por Hélio Eichbauer.
Uma estrela musical na melhor tradição do gênero, Stella Miranda tem presença cênica, mordacidade e timbre de voz com boa extensão e beleza. No espetáculo, revive o papel com que amontoou prêmios em 2001, em "South American Way".
É sustentada por um "Bando da Lua" impecável, com atores-cantores como Rogério Guedes.
O senão é que, mais uma vez, trata-se do tributo a um ídolo, com narrativa frouxa impedindo que se tenha, de fato, um musical. É quase um show.
POUR ELISE
QUANDO qua. e qui. às 21h; até 31/7
ONDE Teatro Folha, av. Higienópolis, 618, tel. (11) 3823-2323
QUANTO R$ 10 e R$ 20
AVALIAÇÃO bom
MIRANDA POR MIRANDA
QUANDO sex. às 21h30, sáb. às 21h, dom. às 19h; até 27/7
ONDE Teatro Augusta, r. Augusta, 943, tel. (11) 3151-4141
QUANTO R$ 50
AVALIAÇÃO bom
Livraria da Folha
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