Filme aproveita onda das mobilizações para falar de política universitária
Roque (Esteban Lamothe) é um jovem aparentemente ingênuo vindo de cidade pequena e recém-ingresso na universidade pública em Buenos Aires. No começo, sua vida estudantil se resume a festas e conquistas amorosas.
Aos poucos, ele se enreda no mar de siglas das diferentes agremiações acadêmicas que disputam o poder na universidade e se torna uma verdadeira raposa política.
O filme argentino "O Estudante", de Santiago Mitre, estreia nesta quinta (24) nos cinemas após ter recebido prêmios do júri no Festival de Locarno e no Bacifi (festival de cinema independente de Buenos Aires).
"É uma fábula política, sobre o poder e os consensos,mas passada num microcosmos particular: o da universidade pública", diz Mitre à Folha. Estreante na direção de longas, ele ganhou destaque escrevendo roteiros para filmes de Pablo Trapero ("Leonera", "Elefante Branco"), um dos nomes mais famosos do novo cinema argentino.
Divulgação | ||
Os atores Esteban Lamothe e Ricardo Felix, que interpretam Roque e Acevedo no filme 'O Estudante' |
"O Estudante" foi rodado em 2011, ano marcado pelas convulsões da primavera árabe, do Occupy Wall Street e das mobilizações no Chile e na Europa. "O filme se comunica com o clima da época, de questionamento de governos, e isso ajudou a carreira dele nos festivais", afirma Mitre.
"Nós argentinos somos muito politizados. Se fala mais de politica do que de futebol", afirma o diretor. "Achei que o filme fosse ter apenas atenção nacional. Mas me surpreendi. Talvez seja pelo ambiente da universidade, tão conhecido."
A Universidade de Buenos Aires mostrada no filme não difere muito do ambiente das instituições públicas brasileiras, lotado de cartazes com palavras de ordem e debates políticos regados a cerveja.
No longa, Roque é levado à política por Paula (Romina Paula), professora engajada por quem se apaixona. Ela o apresenta a Acevedo (Ricardo Felix), tipo mais experiente e pragmático, que aspira a reitoria da universidade e manipula Roque para ajudá-lo.
Mitre diz que a trama não tem qualquer relação com o kirchnerismo e os movimentos estudantis que o apoiam, como o grupo La Cámpora.
"Não há relação com nenhum fato específico. É sobre como se maneja o poder e os consensos na política", diz Mitre. "O filme fala da tensão entre os ideais e a vida prática. E de como a política obriga a trair alguns desses ideais".
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