Crítica: Livro de Isabel Allende tem trama esquisita e personagens bizarros
Primeiro livro policial da escritora chilena-norte americana Isabel Allende, 71, "O Jogo de Ripper" é um martírio. Chegar ao fim das 490 páginas de uma historia implausível, com personagens caricatos, diálogos risíveis e um tom esotérico e místico que tenta esconder, sob um verniz sobrenatural, a ruindade da trama, é tarefa para abnegados.
O livro é um "whodunit" –aquele em que o autor dos crimes é revelado no fim–, mas Allende mostra não ter competência para criar um mistério minimamente credível. Ela esconde informações relevantes do leitor e saca da cartola uma solução inteiramente absurda.
A trama é estrambólica: em São Francisco, começam a acontecer assassinatos misteriosos. Ninguém percebe que se trata de crimes cometidos pelo mesmo assassino.
Fernando Villar/Efe | ||
A escritora Isabel Allende, que lança livro policial "O Jogo de Ripper" |
Quer dizer, ninguém, menos alguns adolescentes espalhado pelo mundo, que se reúnem virtualmente na internet para um jogo chamado "Ripper", onde tentam desvendar crimes.
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O Jogo De Ripper |
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A líder do jogo é uma adolescente chamada Amanda Jackson. A mãe de Jackson, Indiana, uma massagista e mestre de Reiki que atende numa clínica holística, parece ser um alvo possível do assassino.
O pai de Amanda –e ex-marido de Indiana– é simplesmente o chefe do setor de homicídios da cidade, que não vê problema algum em dividir com a filhinha as descobertas das investigações, inclusive de autópsias.
O namorado de Indiana é um ex-soldado das Forças Especiais americanas que trabalha para a CIA, tem uma perna mecânica e a companhia de um cão assassino chamado Attila.
Junte a essa trupe uma vidente e astróloga que prevê os crimes, uma policial mestre em artes marciais e um simpático velhinho, avô de Amanda, que se junta aos adolescentes no jogo de Ripper. Nem a novela "Saramandaia" tinha tantos personagens excêntricos e bizarros.
E tome diálogos como "Eu te amo tanto que me dói aqui, como se uma lápide estivesse esmagando meu peito" e personagens que solucionam mistérios pela força dos "pressentimentos".
Como explica uma delas: "Os anjos e espíritos falam comigo. Os vivos e os mortos somos a mesma coisa". Então tá. Para quem gosta de literatura policial de verdade, recomendo esperar até setembro, quando sai nos EUA o novo de James Ellroy, "Perfidia".
ANDRÉ BARCINSKI é diretor de "O Estranho Mundo de Zé do Caixão", do Canal Brasil
O JOGO DE RIPPER
AUTORA Isabel Allende
TRADUÇÃO Luis Carlos Cabral
EDITORA Bertrand Brasil
QUANTO R$ 50 (490 págs.)
AVALIAÇÃO ruim
Livraria da Folha
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