Referência literária nos anos 80, jornal 'Nicolau' ganha reedição
Em 1998, um grupo de 30 escritores criou uma campanha para tentar reavivar o jornal literário "Nicolau", mantido ao longo de dez anos pela Secretaria de Cultura do Paraná.
Dezesseis anos depois, o governo decidiu investir novamente no periódico. Desta vez, no entanto, para reeditar os 60 exemplares publicados entre 1987 e 1996.
Com colaborações de grandes autores brasileiros, entre eles Paulo Leminski, Ferreira Gullar, Dalton Trevisan e Milton Hatoum, o "Nicolau" ajudou a revelar autores paranaenses como Valêncio Xavier e Manoel Carlos Karam.
"Foi uma aventura do jornalismo cultural e mostra bem como eram as coisas nessa época antes da internet, quando o jornalismo cultural ainda não era puro entretenimento", diz Rodrigo Garcia Lopes, 48, poeta e tradutor que foi da equipe do jornal.
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Capa do número 27 do jornal 'Nicolau' |
O "Nicolau" publicou uma entrevista com o líder comunista Luís Carlos Prestes, então com 90 anos, poucos anos após o fim da ditadura militar (1964-85), na edição 12, e um especial extenso sobre Leminski logo depois de sua morte, em 1989 (edição 25).
"O Nicolau' foi e ainda é um espelho da cultura contemporânea —paranaense em particular e brasileira em geral–, e um canal de difusão dos múltiplos pensamentos que, enfim, se revelavam pós-ditadura", afirma o atual secretário de Cultura do Paraná, Paulino Viapiana.
A história do jornal também é pontuada por um racha na equipe em 1989.
Integrantes do grupo contam que, por desavenças com o secretário da Cultura à época, René Dotti, o designer e produtor gráfico Luiz Antonio Guinski, um dos idealizadores do projeto, foi demitido.
Em solidariedade, a maior parte da equipe deixou o jornal, que foi reestruturado pelas mãos do escritor Wilson Bueno (1949-2010), o único do grupo a ficar no cargo.
REEDIÇÃO
A nova impressão do "Nicolau", feita em conjunto com a Biblioteca Pública do Paraná, terá tiragem de 2.000 exemplares, diz Rogério Pereira, diretor da biblioteca. Destes, mais de metade serão distribuídos para bibliotecas públicas e colaboradores do jornal.
Os exemplares restantes serão vendidos na biblioteca por R$ 50 (três caixas com os 60 números). A Folha apurou que alguns colaboradores da época foram contra a reedição do jornal sem o pagamento de direitos autorais.
Pereira contemporiza: "Fomos procurados por uma pessoa, mas falam sem saber o que isso significaria. Vamos vender por um valor simbólico, que nem cobre os custos. O projeto não tem cunho comercial."
Os recursos, diz, serão destinados para projetos de formação de novos leitores.
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