Fachada interativa de hotel em SP transforma ruídos e poluição em luz
Um gigante digital pulsa à noite em uma das principais artérias da cidade. Ele tem vida própria. Sua forma varia de acordo com o barulho, suas cores reagem à poluição e seus movimentos atendem a comandos de cliques e vozes de passantes.
Ruídos de frenagem e arranque dos ônibus, movimento dos carros, sirenes e os ventos encanados que passam por um dos corredores mais movimentados de São Paulo são a base da programação digital que ilumina a fachada de um hotel dos anos 1970, de cerca de 30 andares, que acaba de ser reformado.
É o projeto "Criatura de Luz", do arquiteto Guto Requena, que começou a funcionar oficialmente na quarta (17), entre as alamedas Lorena e Oscar Freire, na avenida Rebouças.
Microfones na fachada do hotel WZ Jardins —que funciona normalmente— captam o som ambiente para transformar em cor os sons da avenida: picos sonoros geram a cor dourada, sons baixos aparece o azul marinho, sons mais baixos ainda, o azul claro, e o silêncio gera a cor cinza.
O resultado final é uma camuflagem "pixelada" que espelha "a paisagem sonora" do local em uma forma iluminada. O som também provoca mudanças nas formas que aparecem.
Outro grupo de sensores instalados no edifício coleta e analisa a qualidade do ar, provocando a mudança de cores. Nos dias mais poluídos, vermelhos e laranjas. Quanto melhor a qualidade do ar, mais frias são as cores, entre os azuis, roxos e verdes.
Um aplicativo permite a interação direta do público de duas maneiras, com toque e voz.
O projeto, que consumiu dois anos de trabalho da equipe de designers, arquitetos e programadores chefiada por Requena, usa luzes de Led com consumo reduzido de energia. A iniciativa se enquadra nas pesquisas do arquiteto no tema batizado por ele como Cidade Haqueada - ações, projetos, arquiteturas, mobiliários na cidade que proporcionam mudanças em tempo real.
"Precisamos aproveitar a cidade construída e aplicar nela novas formas de comunicação", diz o arquiteto.
'ARQUITETURA HÍBRIDA'
Para Requena, a fachada interativa revela um futuro em que a arquitetura se torna híbrida, "fruto da mistura entre as instâncias analógica e virtual". "Ele se insere na tendência dos edifícios interativos, comunicantes, que para além do uso tradicional do concreto e tijolo, faz uso também de sensores, atuadores, microcontroladores, como parte da materialidade da arquitetura", diz.
"Gosto de pensar que, num futuro próximo, nossos edifícios poderiam nos revelar dados sobre o nosso próprio comportamento. Nesse caso, são dois dados fundamentais das grandes metrópoles: qualidade do ar e paisagem sonora", diz. "É um convite para as pessoas voltarem a olhar para os edifícios e para a cidade", completa o Requena, que também é colunista da Folha.
O aplicativo para celulares com já disponível no sistema Android, com o nome de "WZ Hotel Luz", e, na Apple Store, estará disponível em janeiro.
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