Análise: Filme provoca reflexão sobre manipulação das audiências
Numa das primeiras cenas de "A Entrevista", o rapper Eminem (em carne e osso) declara que é gay no programa fictício "Skylark Tonight", um grotesto "talk show" de celebridades que mostrará ainda o ator Rob Lowe exibindo uma asquerosa careca debaixo de uma peruca. A produção comemora os dois "furos", os telefones da programa não param de tocar e a audiência do programa dispara.
Como sátira política, "A Entrevista" não passa de uma construção cartunesca de uma improvável missão cujo objetivo é assassinar Kim Jong-un.
Não fosse o barulho provocado pelo ataque cibernético à Sony –que vazou e-mails constrangedores entre produtores, valores pagos a atores e pseudônimos usados pelas estrelas para registrarem-se em hotéis–, é difícil pensar que essa insossa comédia poderia ter provocado uma guerra de verdade. Muito menos filas nos cinemas.
A reflexão que o filme realmente enseja é sobre as transformações nos meios tradicionais de comunicação causadas pelo surgimento da internet e pela nova roupagem do terrorismo num mundo pós-11 de Setembro.
No lado ocidental da trama (EUA), está o quão fundo pode chegar o vale-tudo para conquistar a atenção dos espectadores. Do lado oriental (Coreia do Norte), o sucesso da estratégia de propaganda de um regime totalitário. O que "A Entrevista" sugere é que ambos dependem de algum nível de manipulação midiática, seja seguindo as regras do mercado, seja numa ditadura.
É um caso inédito, no qual um filme ordinário, cujo final já havia vazado, virou febre nas redes. Ao quase abrir mão da estreia tradicional em cinemas, a Sony se arrisca a não recuperar cerca de R$ 114,4 milhões gastos na produção. "A Entrevista", porém, já é um sucesso, opacando a corrida dos oscarizáveis. Que um ataque terrorista esteja por trás disso é uma amarga ironia.
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