Em 'Salamaleque', atriz serve banquete árabe ao público
"Todo imigrante árabe deve trazer na mala pão com zátar, livros e todas lembranças que couberem na sua memória."
Assim teria dito o bisavô da atriz Valéria Arbex ao deixar Yabroud, cidade ao norte de Damasco que foi o último reduto rebelde da Síria retomado pelos soldados de Bashar al-Assad, em março de 2014.
Mas o bisavô deixou o local bem antes, no período entre as duas Grandes Guerras. E "Salamaleque", peça que Valéria apresenta em São Paulo, conta uma história mais "singela", segundo Densie Weinberg, que divide a direção do espetáculo com Kiko Marques.
No solo, a atriz recompõe a história de imigrantes do Oriente Médio usando cartas de amor trocadas entre seus avós e puxada pelo fio da memória afetiva por meio dos cheiros e sabores da comida árabe.
"Não é uma peça no sentido convencional, é um encontro. Uma ação entre amigos, que montaram o projeto, e uma celebração com o público, convidado à sentar a mesa e compartilhar essa história", diz Weinberg.
Compartilhar mesmo: durante a peça, Valéria prepara um pequeno banquete árabe e, ao final, o público entra na cozinha cenográfica para provar comidas e bebidas –essas bem reais (leia abaixo).
E tudo de graça –o espetáculo é bancado pelo Prêmio Zé Renato de Teatro, da Prefeitura de São Paulo, que teve sua primeira edição em 2014.
Quando iniciou o projeto de fazer uma peça a partir das cartas de amor dos avós, Valéria fez uma série de entrevistas com imigrantes e descentes de imigrantes árabes.
"A maioria nunca voltou ao país de origem, perderam até a língua. O que mantiveram até hoje é a comida, é o ponto de identidade", diz a atriz.
As cartas e pesquisas de Valéria foram a base da dramaturgia, assinada por Alejandra Sampaio e Kiko Marques.
Assistir à encenação é como passar a tarde na cozinha de uma família árabe. Ou melhor, na cozinha da casa da avó, de qualquer origem, onde "oferecer comida é mostrar a quantidade de amor", diz Weinberg –que é de família judaica.
SALAMALEQUE
QUANDO estreia sáb., 24/1. Sáb. e dom., às 16h. Até 26/4
ONDE Instituto Cultural Capobianco, r. Álvaro de Carvalho, 97, tel. (11) 3237-1187
QUANTO grátis; ingressos podem ser retirados uma hora antes do espetáculo ou reservados pelo tel. (11) 9-7499-4243
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AS COMIDAS E BEBIDAS SERVIDAS DURANTE A PEÇA
Pão sírio com zátar
As fatias são polvilhadas com zátar (mistura de condimentos típica do Oriente Médio), regadas com azeite e aquecidas ao forno
Babaganuche
Pasta de berinjela (a "carne" dos vegetais, segundo um dito árabe)
Homus
Pasta feita com grão de bico, gergelim socado, azeite, suco de limão e alho
Coalhada seca
Coalhada de textura consistente, para comer com pão, quibe, esfiha (ou com o que quiser)
Goma árabe com amêndoas
Doce gelatinoso temperado com água de rosas ou miski (resina vegetal) e polvilhado com (muito) açúcar
Água aromatizada
Com xarope de romã, essência de miski, folhas de hortelã e rodelas de limão siciliano, servida bem gelada
Arak
Bebida destilada de uvas ou tâmaras com infusão em anis
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade