Universo de Troche ganha mural em São Paulo
"Há um ditado que diz que os quadrinhos são uma mescla de literatura e desenho. Os quadrinistas são os que nunca souberam fazer poesia e nunca souberam ser só desenhistas", comenta o cartunista uruguaio Gervasio Troche, 38 anos, sobre sua arte.
O autor de "Desenhos Invisíveis" (Lote 42, 160 págs., R$ 29,90), coletânea com seus desenhos publicada em 2014, conversou com a reportagem numa pausa de seu mais recente trabalho: um painel de 85 m² em uma área externa do Sesc Ipiranga, em São Paulo.
Ernesto Rodrigues/Folhapress | ||
O artista argentino Gervasio Troche, autor de "Desenhos Invisíveis" (Lote 42) trabalha em mural no Sesc Ipiranga |
Feita ao longo de 15 dias de trabalho praticamente ininterrupto, a intervenção ficará pronta nesta terça-feira (24).
Para o lançamento, Troche, que colabora com a Folha na seção "Hora do Café" do caderno "Mercado", participa de um bate-papo sobre quadrinhos com o colega João Montanaro.
A tinta branca com que ele desenha estrelas sobre um muro pintado de preto respinga na camiseta preta que o artista veste, criando uma pequena galáxia acidental.
Enquanto fala de sua paixão pela infinitude do Universo, tema recorrente em sua obra, a impressão é a de que Troche parece ser parte das constelações que acabara de retratar.
"A ordem do Universo é o caos, tudo começou com uma explosão. Isso me dá liberdade", conta ele, que transpôs para a parede o desenho "Tecendo o Universo", de 2009.
"É uma fascinação [pelo tema] primitiva, e há explicações que incluem a ciência, os deuses. Mas a questão original nunca mudou: 'O que é isso?'. Creio que fico sempre nessa pergunta", diz o cartunista, que se considera um "astrônomo frustrado".
Gervasio Troche | ||
Desenho "Tecendo o Universo", do cartunista Gervasio Troche |
Troche diz não acreditar muito em horóscopo, mas quis o destino que o desenho escolhido pela coordenação do Sesc para que ele ocupasse a parede em branco fosse o primeiro que publicou em seu blog, há seis anos.
A página foi o principal meio de divulgação dos trabalhos do artista, dono de um estilo que classifica como "humor mudo", inspirado pelo cinema sem som: traços simples, em preto e branco, sem o uso de palavras e sem personagens fixos.
As publicações semanais na internet lhe renderam um contrato editorial, colaborações em jornais e revistas e uma turnê pelo Brasil em 2014 para lançar "Desenhos Invisíveis", financiada coletivamente pelos leitores na plataforma Catarse.
A campanha pretendia arrecadar R$ 4 mil e conseguiu levantar um valor quase cinco vezes maior: R$ 18,4 mil. Troche esteve em São Paulo, Rio, Curitiba, Recife e BH.
"Meus desenhos chegaram ao Brasil como eu queria." Como? "As pessoas aqui se comovem de um jeito que você não pode imaginar...".
O céu de Troche em São Paulo é diferente do desenho original, e só pode ser visto do Sesc Ipiranga até o fim de agosto. "Fui ao planetário [do Ibirapuera] me inspirar", diz o artista, que ficou decepcionado com as poucas estrelas que conseguiu ver a olho nu.
TROCHE E JOÃO MONTANARO
QUANDO ter. (24), às 20h
ONDE Sesc Ipiranga, r. Bom Pastor, 822, São Paulo, tel. 11-3340-2000
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