Crítica
Argentino ilumina a história da atriz tragada por um filme
Um único trabalho no cinema consumiu a existência de uma atriz e sua interpretação única contribuiu para incluir um filme no panteão da grande arte. Os destinos cruzados da francesa Renée Falconetti (1892-1946) e do filme "A Paixão de Joana d'Arc" (1928) são tema de "Chamas de Nitrato".
O título do documentário do argentino Mirko Stopar faz referência ao nitrato de celuloide, substrato da película cinematográfica até os anos 1950. Por ser altamente inflamável, o nitrato acarretou a extinção de um número incalculável de filmes.
No documentário, a referência simboliza o quase desaparecimento posterior de Falconetti, o destino quase fatal do filme "A Paixão de Joana d'Arc" e a trajetória errática de seu autor, o dinamarquês Carl Theodor Dreyer (1889-1968), após o trabalho.
Divulgação | ||
Renée falconetti em 'Chamas de Nitrato" |
Uma longa entrevista com Hélène Falconetti, filha da atriz, percorre os meandros de uma história pessoal oculta. As origens, a ascensão aos palcos parisienses, o relacionamento com um milionário são detalhados em minúcias, assim como o longo ocaso, falências, exílios e doenças que apagaram o rastro de Renée.
Se na tela Falconetti converteu-se em ícone da emoção e do sofrimento, nos intensos closes com que Dreyer filmou o martírio da santa, o que aconteceu com ela depois do filme confunde ainda mais a relação entre intérprete e personagem.
Como se não bastasse isso para "Chamas de Nitrato" conquistar a curiosidade cinéfila, o documentário ainda rastreia o processo criativo de Dreyer na obra, decifrando lendas e agregando fatos que esclarecem sua forma.
Apesar de mais tarde ter entrado para a lista dos filmes-faróis, aqueles cuja forma inovadora introduz outros modos de ver, foi quase por acaso que "A Paixão de Joana d'Arc" ainda existe.
O filme sofreu cortes exigidos pela igreja no lançamento, em seguida os negativos se perderam num incêndio, uma versão muito adulterada substituiu o rigoroso original concebido por Dreyer e só a descoberta tardia de uma cópia no porão de um hospital psiquiátrico trouxe de volta o assombro do encontro de Falconetti e Dreyer.
Em resumo, uma daquelas histórias que a gente acha que só existem no cinema.
CHAMAS DE NITRATO
DIREÇÃO Mirko Stopar
PRODUÇÃO Noruega/Argentina, 2014, 10 anos
QUANDO hoje (15), às 15h, no Oi Futuro Ipanema, no Rio
AVALIAÇÃO ótimo
Livraria da Folha
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