Em Cannes, diretor de 'Gomorra' mergulha na fantasia em fábula gótica
O diretor italiano Matteo Garrone sofreu uma perseguição violenta quando lançou, em 2008, seu "Gomorra", drama ultrarrealista sobre as famílias da máfia napolitana.
Há dois anos, apostou na fábula "Reality - A Grande Ilusão", sobre os perigos da fama nos tempos modernos. Em seu novo longa, "Il Racconto dei Racconti" ("A História das Histórias"), Garrone decidiu mergulhar de vez na fantasia e foi bem recebido no primeiro dia de competição no Festival de Cannes.
"Il Racconto dei Racconti" é um conto de fadas gótico inspirado no escritos do poeta napolitano Giambattista Basile, que cunhou as primeiras versões de Rapunzel e Gata Borralheira, no início do século 17. E é o primeiro trabalho de Garrone em língua inglesa, mesmo com atores mexicanos (Salma Hayek ) e franceses (Vincent Cassel) dividindo a tela com americanos (John C. Reilly) e ingleses (Toby Jones).
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Cena de "Il Racconto dei Racconti", ficção científica com elementos de horror baseado no trabalho do poeta Giambattista Basile |
O cineasta italiano mostra desenvoltura no gênero que muitas vezes pode ser traiçoeiro por causa da necessidade de efeitos especiais, maquiagem pesada e figurinos extravagantes.
Não é difícil de notar as influências fellinianas já na abertura, quando duas moças seminuas são agraciadas sexualmente pelo rei de Cassel. Mas a direção de arte Dimitri Capuan e a fotografia do gênio Peter Suschitzky, preferido de Tim Burton e David Cronenberg, deixam o filme mais próximo de um "A Viagem do Capitão Tornado" (1990) que de um "Branca de Neve e o Caçador" (2012).
O filme é dividido em três linhas narrativas. A primeira é sobre uma rainha (Hayek) que, de tanto desejar um filho, manda o marido (Reilly) arrancar o coração de um monstro marinho -uma aventura que acaba com a morte do nobre.
Ela finalmente engravida ao comer o coração da fera, mas ela não sabe que a cozinheira virgem que preparou o prato também é fertilizada pela mágica. Os gêmeos de mães diferentes crescem em castas diferentes, mas têm muito em comum.
O segundo conto traz o rei de Cassel apaixonando-se pela voz de uma mulher, sem saber que ela usa magia para manter-se jovem. O terceiro e mais engraçado é protagonizado pelo rei de Toby Jones obcecado por uma pulga e entrega a filha humana (Bebe Cave, ótima) para um ogro das cavernas.
Neste segmento, Garrone mostra como atualizar os temas dos contos de fadas de Basile para versar sobre feminismo e diretos das mulheres. Ele é preciso e esconde bem a panfletagem debaixo de muito sangue e ironia.
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