crítica
Visual hipnótico da ópera 'Thaïs' é obra de um grande artista
A cruz e o crucificado estão no centro do palco. Conforme a música avança, a luz hipnótica e a nudez abstrata dos corpos em lento movimento potenciam a interioridade da escuta; quando o olho se dá conta, o símbolo cristão quase saiu de cena.
Em cartaz no Theatro Municipal, a ópera "Thaïs", de Jules Massenet (1842-1912), tem direção cênica do italiano Stefano Poda, também responsável pela cenografia, figurinos, iluminação e coreografia. Massenet era professor de composição do Conservatório de Paris quando a obra estreou, em 1894.
Não há árias de bravura nem interlúdios elaborados: a música é serena e doce - apesar do conflito inerente à história do monge Athanaël que se perde, à medida em que logra a conversão espiritual da prostituta mais cobiçada da antiga Alexandria, Thaïs.
Regida por Alain Guingal, a Sinfônica Municipal foi especialmente bem nas passagens camerísticas, como flauta, harpa e cordas antes da famosa "Meditação" (com belo solo de violino do spalla Michelangelo Mazza).
Ermonela Jaho é uma Thaïs sensível e musical, que combina bem com o Athanaël de Lado Ataneli. Dirigido por Bruno Facio, o Coro Lírico acentuou sutilezas.
A unidade visual proposta por Poda (criada originalmente para o Teatro Regio de Turim) é obra de um grande artista. Suas soluções escutam cada mudança harmônica, cada detalhe de timbre. Visualidade que deságua na interioridade sonora.
Na trama, não há síntese possível: se a beatitude final de Thaïs suplanta a devoção que nutria por Vênus, a deusa do amor ainda -para desespero de Athanaël- governa a fragilidade da alma humana.
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